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1.
Catarina Furtado é uma estrela há quase 30 anos.
Se fizermos contas aos programas com mais audiência é a figura televisiva com um sucesso mais prolongado em Portugal.
Ganhou prémios, dinheiro e não há nenhum lugar no país em que não seja reconhecida.
Se quisesse tinha as melhores mesas nos restaurantes de sucesso.
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Se quisesse gastaria o seu dinheiro em joias, carros desportivos e montes alentejanos.
Se quisesse passaria o tempo a viajar, a comer ostras e em extravagantes spas.
2.
Catarina Furtado é uma estrela, mas não é uma estrela como a maioria das que conhecemos.
O seu umbigo é solidário.
O seu ego partilhado com quem não o tem.
O seu tempo é utilizado com quem precisa, com quem faz o bem, com raparigas que nascem condenadas por não serem homens, com mulheres que pagam por sê-lo - mulheres que são obrigadas a casar, que são obrigadas a calar, que são obrigadas a humilhar-se apenas por terem nascido mulheres.
Como Embaixadora da Boa Vontade, nas Nações Unidas.
Como fundadora e mentora dos "Corações com Coroa" que por estes dias completaram dez anos de vida.
Um projeto que não teve qualquer dúvida em levar para a frente. Enquanto alguns utilizam o nome para terem benefícios sociais, ela utilizou sempre a marca "Catarina Furtado" para conseguir financiamentos para que meninas e mulheres pudessem ter um lugar em que os seus direitos fossem defendidos, um lugar em que se pudessem informar, ser apoiadas e preparadas.
3.
Repare, são dez anos.
Não são dez dias.
Ou um ano e meio.
Foram dez anos da sua vida a gastar o tempo que lhe sobrava na agenda.
Dez anos em que se sacrificou por quem precisava.
Em que esteve, deu o corpo às balas, abraçou e foi abraçada.
Poderia ter sido um devaneio, uma necessidade pessoal que terminaria ao fim de algum apaziguamento pessoal.
4.
Por vezes, eu desejo fazer voluntariado, mas há sempre qualquer coisa que acontece de mais importante e que me impede.
Qualquer coisa que, na maioria das vezes, não tem importância alguma.
Na minha cabeça apoio sem-abrigos, apoio crianças em dificuldade, apoio refugiados e mulheres vítimas de violência doméstica.
Mas depois não passa da minha cabeça, não passa de uma boa intenção.
E eu não sou a Catarina Furtado.
Não tenho lugar nas melhores mesas, não posso fazer voltas ao mundo ou comer ostras todos os dias se o quisesse fazer.
Ela poderia, mas não o faz.
Por que na sua cabeça o que é importante é fazer, estar com os outros, viver comprometida com o mundo, lutar por uma ideia de igualdade.
5.
Muitos parabéns, Catarina.
E muitos parabéns, João Reis, um marido sempre presente na luz e na sombra.
É isso que hoje desejo celebrar.
Celebrar uma mulher maior.
Uma mulher corajosa que é uma estrela deste mundo e certamente de todos os outros.
E estrela verdadeiramente no mundo que conta - o dos que são bons, o dos que estão do lado certo, os que vale a pena seguir pelo exemplo que oferecem e pelo que são.