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1.
Cristina Ferreira é uma estrela de televisão que parecia imparável. Durante alguns anos pulverizou audiências, esmagou adversários, tornou-se figura grande de um país televisivo que a venerava.
A sua história era uma história de superação.
Da Malveira para o mundo.
Sem complexos da sua origem, sem medo das elites, sem vergonha de ser, de estar, de se impor.
Fez nascer uma revista com o seu nome.
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Aceitou o convite para dirigir a programação da TVI.
Assumiu até a vontade de não se excluir de uma futura candidatura presidencial.
Recebeu presidentes, primeiros-ministros, deputados e até Jerónimo de Sousa e Catarina Martins num programa da manhã que, obviamente, se chamava "O Programa da Cristina".
Não houve um único protagonista que pudesse virar as costas à sua popularidade, aos milhões de portugueses que trazia consigo.
O inglês de Cristina Ferreira
2.
Chegaram depois as dificuldades.
A saída da SIC gerou turbulência e um processo que a desestabilizou.
Daniel Oliveira resistiu à sua saída e provou que ela, afinal, não podia ganhar sempre.
Alguns programas em que apostou não se revelaram vencedores.
E por fim chegou o "príncipe" José Eduardo Maquiavel que fez um trabalho em que é perito: o de desgaste diário dos seus adversários que adora fritar em lume brando.
3.
Cristina Ferreira passa agora por dificuldades.
De um momento para o outro viu o seu espaço estreitar-se.
A porta de entrada na SIC ficou selada.
A porta de saída da TVI começa a entreabrir-se.
A porta da RTP não será propriamente uma entrada que vá ao encontro dos seus sonhos e ambições.
Chegada aqui aconteceu-lhe o que, regra geral e sem exceções, sucede a quem deixa de ganhar todos os dias.
Cristina Ferreira passou a ser atacada por quem antes a defendia. Num instante, os aliados de sempre deixaram de aparecer, calaram-se quando antes a defendiam e, alguns deles, alguns que até deveriam agradecer-lhe as oportunidades que tiveram, fazem questão de a criticar, de a violentar, de lhe virar as costas.
4.
Fazem-no aproveitando cada pretexto.
As suas entrevistas.
Os seus vestidos.
As suas gargalhadas.
O seu inglês.
O seu feitio.
As suas conquistas que afinal não são conquistas.
As suas viagens.
A sua artificialidade.
Todos os pretextos são bons.
Todos são aproveitados.
O que antes era genuinidade é agora má preparação.
O que antes era original é agora ridículo, patético, vergonhoso.
Na WebSummit inventaram emojis para gozar com o seu inglês. Manuela Moura Guedes confessou que Cristina não tem noção das coisas que diz e que, apesar de se ter divertido com o seu inglês, se sentira extremamente envergonhada.
Não será preciso recordar-lhe que Manuela é mulher de José Eduardo Moniz que trabalha com Cristina Ferreira.
5.
Não conheço a Cristina.
Mas tem hoje a minha empatia.
Prefiro a sua megalomania do que a sonsice dos peixinhos que gravitam à volta dos tubarões para comer o que sobra.
Prefiro a sua ambição desmedida (mas visível aos olhos de todos), do que a ambição desmedida mascarada e escondida por sucessivos golpes palacianos.
O meu profundo desprezo para os que abraçam só quando a maré está cheia.
São muitos, são demasiados.
Não sei o que será o futuro da Cristina Ferreira, mas terá sempre mais futuro do que a maioria dos que agora lhe viraram as costas.
Aposto o que quiserem.