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1.
Alguns dos mais poderosos do mundo encontraram-se em Portugal para mais uma reunião anual do Clube Bilderberg.
O Pestana Palace fechou para uso exclusivo dos participantes e as reuniões aconteceram em lugares incertos.
Durante três dias alguns dos que mais poluem o mundo discutiram a melhor forma de diminuir a poluição.
Alguns dos que mais lucram com a venda de armas trocaram argumentos para se terminar com a guerra, com as guerras.
Alguns dos mais ricos do mundo juntaram esforços para que os pobres sejam menos pobres.
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Alguns dos que mais contribuíram para o investimento na tecnologia e na Inteligência Artificial uniram esforços e neurónios para encontrar os melhores antídotos contra um mundo dominado por robots e tecnologia.
Os que são mesmo ricos desprezam pessoas como Cristiano Ronaldo - e desprezam-nos a nós
2.
O Clube Bilderberg é um paradoxo.
Ou talvez seja mais apropriado afirmar que é um clube que elevou o cinismo à categoria de dogma.
Não tenho nada contra os ricos, conheço e sou amigo de algumas pessoas com dinheiro - não me importava de ter metade do dinheiro dos ricos que conheço, seria hipócrita se não o admitisse.
Mas quando falamos dos realmente ricos, dos que no capitalismo conseguem multiplicar fortunas colossais que correspondem ao Produto Interno Bruno de vários países, que o conseguem fazer com venda de ações, com especulação e controle de algoritmos, estamos a falar de uma outra dimensão.
Uma dimensão amoral e pornográfica.
A fortuna de Elon Musk supera o PIB de Portugal ou da Grécia.
Os dez homens mais ricos do mundo têm o mesmo dinheiro de mais de três biliões de pessoas.
Não é sustentável.
Talvez também isso tenha sido discutido nas reuniões secretas de Bilderberg - o que é quase tão contraditório como ver os Coldplay criticarem os concertos de estádio ou a Simone de Oliveira afirmar que nunca suportou a "Desfolhada".
3.
Quando Cristiano Ronaldo jogou no Manchester United, agora nesta sua segunda passagem, sabes quantas vezes esteve com os bilionários irmãos que são donos do clube?
Acertaste.
Nenhuma.
Os irmãos Joel e Avram, várias vezes vistos no estádio, nunca tiveram a iniciativa e a curiosidade de descerem ao balneário e conhecerem o mais mediático jogador da história do futebol nos últimos 30 anos.
Seria normal se tivesse acontecido, mas não aconteceu.
Estas pessoas estão numa outra dimensão. Vivem em função do seu jogo particular: ganhar dinheiro.
Comprar e vender.
Especular.
Conquistar.
Não se confundem com os que consideram subalternos.
Sobretudo se forem mediáticos.
Todos são instrumentais, todos existem em função do seu jogo.
Não perdem tempo, não fazem fretes e não se misturam para não ficarem contaminados.
Antes, os muito muito ricos, não se misturavam com os pobres, mas agora não se misturam com ninguém.
4.
É isto.
Muito poucas pessoas controlam metade do dinheiro do mundo.
Não têm pátria ou emoções parecidas às nossas, não têm de ganhar eleições, desprezam a política e os políticos, desprezam o mediatismo, desprezam os jornalistas e o ser humano.
Cristiano Ronaldo é muito rico, mas para estes homens é ridículo o dinheiro que tem. Tão ridículo que não se aproximam a gente assim, da mesma maneira que os imperadores romanos não bebiam vinho com os gladiadores por mais populares que estes fossem.