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1. Querido Rui Rio
Meu dono
Se soubesses as saudades que tenho não brincarias com coisas sérias - ouvi-te na televisão a falar de mim, disseste e muito bem que estou triste por não teres passado (mais uma vez) o 10 de Junho em casa.
É sempre pior quando se têm expectativas de que tudo irá voltar à normalidade.
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Por isso, é bem melhor não termos ilusões ou não sermos inundados de falsas promessas - foi aliás o que me pediu a minha mãe naquele pobre quintal de Famalicão, foram os seus últimos conselhos antes de me resgatares para o conforto da tua e agora minha casa.
A minha mãe tinha razão.
Acreditei e não o devia ter feito.
2. É que depois da tua última derrota pensei que seria agora.
Com o coração nas mãos te digo: quando perdeste as eleições legislativas uma parte de mim ficou contente.
Podia finalmente ter-te de volta.
A ti e ao que me habituaste.
A água sempre fresquinha.
A escovinha no pelo nos nossos pachorrentos domingos.
As brincadeiras com a bola de cores alegres e luzes que acendem.
Voltavas tantas vezes ao fim da tarde com uma nova saqueta, um novo sabor de snack para gatos finos, o que nunca imaginei que pudesse vir a ser.
3. Depois habituei-me, Rui.
Habituei-me às toalhitas sem cheiro para patinhas, rabo e bigodes.
Habituei-me à manicure meiguinha que me amparava as unhas e me mantinha as almofadinhas das patas saudáveis e lustrosas.
E habituei-me também aos teus atacadores.
Às histórias que me contavas em alemão.
Ao barulho dos jornais e aos desabafos que te saltavam boca fora quando vias o António Costa na televisão.
O António Costa e o Marcelo Rebelo de Sousa mais o Cavaco Silva e os jornalistas e comentadores.
Muito falavas em alemão comigo.
E eu ronronava para te acalmares.
Não entendes bem a língua dos gatos, mas eu dizia-te sempre que da próxima ias ganhar. E que tudo iria ficar bem.
4. Olha, Rui.
Meu querido dono.
Continuo aqui à tua espera.
Por favor, vem para casa.
Já está tudo bem.
Não sei se sabes, mas já passaram quase seis meses pelas eleições que perdeste.
Estou há quase meio ano à tua espera.
Deixa-te de viagens, de discursos no parlamento e vira definitivamente esta página à tua vida.
Volta para mim e deixa o Montenegro ocupar o teu gabinete de uma vez por todas.
Vem que já te preparei uma festa aqui em casa.
Não me faças desesperar - precisamos mais de ti aqui do que o ingrato povo que não te soube compreender como eu te compreendo.
Mesmo quando falas em alemão.
Do teu Zé Albino.
Sempre com amor.
Com todo o amor do mundo.