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Andam por aí uns facultativos terraplanistas em virulenta viralidade.
Não se sabe que vénias fazem a Hipócrates ou a Esculápio ou em que doses bebem do Galeno. Prescrevem, em plataforma de comunicação, uma incisiva flebotomia da norma. É uma sangria desatada.
O mais recente récipe surgido desse acantonamento é contra a zaragatoa. Os facultativos terraplanistas insistem na zaragata contra o estabelecido pela autoridade sanitária. Há mesmo quem, sem despir a bata, ensine a enganar o teste.
Já não se trata de discutir a eficácia e a bondade da zaragatoa. É claro que este passo em falso decorre de um desprezo por uma prática estabelecida desde o aparecimento da gripe H1N1, há mais de dez anos.
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Ouça aqui a crónica Sinais, de Fernando Alves, na íntegra
Como explicam os mais conceituados virologistas, o vírus é mais frequente nas chamadas células ciliadas do sistema respiratório, esconde-se no trato respiratório, a transmissão não se faz predominantemente pela saliva. Com a zaragatoa é possível reduzir a percentagem de falsos negativos.
Nada disto é rebatido pelos facultativos terraplanistas. Eles tratam de armadilhar o método. Uma das suas representantes acaba de explicar como podemos eliminar "os restos virais" das profundezas da cavidade nasal.
Eis o truque, sugerido por alguém que terá feito o juramento de Hipócrates: se limpar as fossas nasais e a orofaringe está safo, o teste para a detecção do vírus dá negativo.
Uma médica que ensina a enganar o teste é como um polícia de trânsito que ensine a fugir aos radares ou um funcionário da autoridade tributária que ensine a fugir ao fisco.
Limpar a fossa, diz ela. Já agora, "pachos na testa / terço na mão / uma botija / chá de limão"...