Sinais

"Sinais" nas manhãs da TSF, com a marca de água de sempre: anotação pessoalíssima do andar dos dias, dos paradoxos, das mais perturbadoras singularidades. Todas as manhãs, num minuto, Fernando Alves continua um combate corpo a corpo com as imagens, as palavras, as ideias, os rumores que dão vento à atualidade.
De segunda a sexta, às 08h55, com repetição às 14h10.

Manda quem pode

Nem uma semana passara sobre a garantia de que "faria tudo o que fosse a vontade do Presidente da República e da Igreja" quanto a uma realização pela qual ofereceu "o peito às balas", o reverente e abnegado Carlos Moedas engrossou a voz e veio ontem assegurar que deu "ordem aos engenheiros" para que revejam tudo o que possam nos projectos relacionados com os palcos associados às Jornadas Mundiais da Juventude.

"Dei ordem" é uma formulação um tudo nada tonitruante. Talvez se justificasse, no caso em apreço, o vigor suave da expressão "determinei" ou outra de igual fasquia, tão eficaz e menos ríspida, até por ser dirigida a engenheiros. Num magnífico poema dos anos 40, João Cabral de Melo Neto lembra que "o engenheiro sonha coisas claras:/ superfícies, ténis, um copo de água". Mas manda quem pode.

E assim a expressão "dei ordem" corre no éter, enquanto nos jornais alterna com uma outra, mais oblíqua: "Pedi, ainda hoje".

Talvez essa precisa imprecisão demonstre o quão certeiro é o ditado segundo o qual "se o poderoso roga, rogando manda".

Fernando Pessoa desenvolveu o tema na "Teoria Prática do Comércio": "Os homens dividem-se, na vida prática, em três categorias - os que nasceram para mandar, os que nasceram para obedecer e os que não nasceram nem para uma coisa nem para outra. Estes últimos julgam sempre que nasceram para mandar; julgam-no mesmo mais frequentemente que os que efectivamente nasceram para o mando".

As inflexões lexicais de Carlos Moedas, uma figura por vezes vagamente heteronímica - o que explica as frequentes referências a si próprio na terceira pessoa - acentuam uma indefinição que, em momentos de aperto, pode provocar a mangação. Mais ainda quando o palco é grande.

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