Sinais

"Sinais" nas manhãs da TSF, com a marca de água de sempre: anotação pessoalíssima do andar dos dias, dos paradoxos, das mais perturbadoras singularidades. Todas as manhãs, num minuto, Fernando Alves continua um combate corpo a corpo com as imagens, as palavras, as ideias, os rumores que dão vento à atualidade.
De segunda a sexta, às 08h55, com repetição às 14h10.

Mãos, magnólias, relâmpagos

Guardo do dia de ontem dois momentos que não esquecerei e que procurarei partilhar mais demoradamente na edição pascal da Viagem a Portugal.

O primeiro foi vivido no Museu Nacional Soares dos Reis onde me acolhi fugindo a uma carga de água um pouco antes da hora aprazada para a gravação com o diretor, junto ao Desterrado, esse "helenístico mármore", como lhe chamou Saramago. Deambulei, pois, por duas exposições temporárias que o museu acolhe: "Seja dia ou seja noite pouco importa" permanece até 8 de Maio e promove um poderoso caudal de criação de imagens verdadeiramente hipnóticas resultantes de um diálogo entre André Gomes e Pedro Calapez a partir de um mote dado pela pintura de Artur Loureiro, que tanto Gerês guardou nas telas depois de se cruzar em Paris com Columbano, João Vaz e tantos outros e de dar dar aulas de pintura em Melbourne e cujo centenário do desaparecimento já não tardará.

Mas foi na outra exposição temporária do Soares dos Reis, "Depositum 2", aquela em que professores de medicina escolhem peças da reserva do museu, que me deixei comover diante da mão do pintor António Carneiro, moldada em gesso por António de Azevedo, após a sua morte.

Ainda antes da gravação da conversa com António Ponte andei pelo jardim das camélias, interrogando-me sobre se D. Pedro IV terá sentido o seu perfume quando ali morou durante o cerco do Porto. Mas o dia reservava-me outro claustro, uma promessa fugaz e austera de paraíso desenhada pelos beneditinos de Singeverga. Caminhando no claustro com o abade do mosteiro, ele apontou-me a janela de onde Daniel Faria olhava a belíssima magnólia que viverá para sempre num dos seus poemas, aquela " magnólia de verdade a todo o redor - maior / e mais bonita do que a palavra". Foi isto no mosteiro que é um lugar de silêncio. Aqui me calo, com os sentidos presos à magnólia "desfolhando relâmpagos sobre mim".

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