- Comentar
A ministra brasileira da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos surgiu ontem no Instagram coberta com um véu, uma espécie de grinalda de noiva. A imagem acompanhava um apelo da ministra aos foliões. A ministra Damares Alves, que é também pastora evangélica, pedia aos foliões que se vestissem "com respeito" durante o Carnaval. Três horas depois, a mensagem foi retirada. Mas o nome de Damares Alves já caiu no grande caldeirão da sátira carnavalesca. Os foliões não passaram ao lado das inacreditáveis teorias da ministra em defesa da abstinência sexual dos jovens. Essas teorias mereceram o repúdio firme da Sociedade Brasileira de Pediatria e foram severamente criticadas em artigos científicos publicados recentemente na Lancet. Agora são motivo de chacota nas marchas carnavalescas. O refrão de um samba de carnaval visa directamente a ministra: "Quem já deu, já deu./ Quem não deu, não vai dar mais./ Não vai, Damares,/ Não vai, Damares."

A ministra brasileira da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, Damares Alves
© Reprodução Instagram
Há dias, a autora de livros para crianças Rosana Rios ouviu da boca da directora de uma escola privada em São Paulo algo verdadeiramente inquietante: ela gostaria de incluir no programa de actividades um dos livros de Rosana, escritora várias vezes finalista do prestigiado prémio Jabuti, mas não o fará porque os livros de Rosana têm muitas histórias de bruxas e dragões e esses temas são mal vistos por ministros como Damares Alves. Vários jornais brasileiros têm noticiado acções de caça aos livros. Mais de 40 obras fundamentais da literatura brasileira (entre elas as "Memórias Póstumas de Brás Cubas", de Machado de Assis) acabam de ser retiradas das livrarias por ordem da Secretaria da Educação da Rondónia.
A ministra Damares Alves vai participar esta segunda-feira na reunião do Conselho dos Direitos Humanos das Nações Unidas. Sabe-se que a ministra vai ouvir denúncias de violação dos direitos humanos contidas em vários relatórios oficiais das Nações Unidas. Os relatores da ONU vão apresentar casos que fundamentam as críticas à actuação do governo brasileiro face aos povos indígenas, às questões ambientais e aos programas sociais, muitos deles considerados exemplares, que têm vindo a ser desmantelados.
Neste cenário, por mais que se resguarde com véus e grinaldas, a ministra Damares terá afivelada a máscara que não vai disfarçar um desrespeito sem perdão. Não vai, Damares
Subscrever newsletter
Subscreva a nossa newsletter e tenha as notícias no seu e-mail todos os dias
Ouça a crónica "Sinais", de Fernando Alves, na íntegra