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Um preso do Linhó, beneficiando do regime aberto, tomou o encargo de pastorear cabras e, de seu livre pensamento, perdeu-se do rebanho e do aprisco. A notícia conta que o preso, estando já em fim de pena, preferiu pascer outras urgências. A operação de busca, entretanto lançada, não permitiu encontrar o fugitivo. Das cabras, nada consta.
Mas, como bem observou João Cabral de Melo Neto nos Poema(s) da Cabra, a criatura caprina é trancada "do lado de fora". O poeta chama-lhe "ambulante prisioneira" condenada a vida sem lazer que lhe permita "ser fina ou lírica". Por isso, estabelece o poema, "mesmo ruminando/ não é jamais contemplativa". A notícia é omissa, mas deixa supor que as cabras terão regressado ao redil prisional, tomando como boa a tese de que o rebanho do Linhó beneficia de regime aberto.
É lícito deduzir que são as cabras do Linhó duplamente prisioneiras e talvez a súbita consciência dessa circunstância tenha atormentado o pastor ocasional. Confrontado com a, no caso, insuportável, ainda que transitória, função de carcereiro ao ar livre, terá decidido pôr-se a caminho de um incerto lugar onde pudesse ser só pastor, cantando aos montes em redor, como Florival, o de Bensafrim. Mesmo sabendo que "ninguém larga a grande roda".
Ouça aqui a crónica na íntegra
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