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El Hatillo é um aglomerado urbano próximo de Caracas. Foi na praça Bolívar de El Hatillo, rodeada de casas pequeninas coloridas e de restaurantes muito procurados pelos turistas, que Heriberto Gomes, arista plástico luso-venezuelano, recolheu ontem, durante duas horas, numa enorme tela branca estendida no chão, pegadas dos visitantes. Eis o que poderemos chamar, literalmente, obra em andamento. Heriberto Gomes já recolheu, desde 2021, pegadas de gente apressada ou mais contemplativa, em Madrid, Barcelona, Lisboa, Funchal, na costa-riquenha Cartago, na mexicana Monterrey. Ele explica, deste modo, o projecto a que chamou "A imortalidade do momento": "As pessoas passam por cima, deixam as marcas dos sapatos e fazem realçar o relevo, o chão da calçada, características de cada cidade. Algumas pessoas", disse Heriberto aos jornalistas, nem percebem que estão passando por cima de uma obra de arte".
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O artista filho de portugueses não procura, nesta experiência, o sapato perdido de Rosa Luxemburgo, ao ser levada pelos carrascos, o sapato mais tarde encontrado na lama e sobre o qual escreveu Eduardo Galeano.
Como todos poderão ver daqui a uns meses no museu Carlos Cruz-Diez, em Caracas, ele procura as marcas que deixamos quando estamos a andar nas nossas cidades, na rua. E com isso nos revela " as marcas que deixamos nas vidas de outras pessoas". É que, ele o diz, "essas marcas influenciam não só outras pessoas, também o mundo".
Dou comigo a imaginar as pegadas que Heriberto Gomes conseguirá colher no largo de uma das aldeias rurais abrangidas pela designada Carta de Perigosidade hoje revelada na primeira página do JN e que, a ir por diante, impedirá as pessoas de sair de casa, em dias de elevado risco de incêndio.
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