Sinais

"Sinais" nas manhãs da TSF, com a marca de água de sempre: anotação pessoalíssima do andar dos dias, dos paradoxos, das mais perturbadoras singularidades. Todas as manhãs, num minuto, Fernando Alves continua um combate corpo a corpo com as imagens, as palavras, as ideias, os rumores que dão vento à atualidade.
De segunda a sexta, às 08h55, com repetição às 14h10.

Perguntas e caminhos

Há quarenta anos, quando visitou São Miguel de Seide (que grafou com C de casa, ao contrário do que indicam as placas toponímicas e pratica a própria tutela da Casa de Camilo e do Centro de Estudos Camilianos, mas conforme ao que estabelece o Ciberdúvidas), Saramago olhou demoradamente a cama onde dormia Camilo e a mesa onde Camilo escreveu várias novelas e perguntou: "Onde está Camilo?" . Saramago considerou que aquela era "muito mais a casa de Ana Plácido, quase nada a de Camilo". E rematou: "Ceide não comove, entristece. Talvez por isso, o viajante começa a sentir que é tempo de ver o mar". E seguiu viagem até Matosinhos, pensando no Nobre e procurando a belíssima igreja do Senhor Bom Jesus.

Não há de ser por via da consoante com que grafamos o lugar onde se ergue a última morada do grande escritor, renascida de um fogo de há pouco mais de um século e agora recebendo novos visitantes, também na recuperada Casa do Caseiro, que alguém ousará aferir "esta nossa debilidade camiliana" (e assim faço vénia à exposição que ali permanecerá até Setembro em homenagem ao grande camilianista João Bigotte Chorão).

Ao que venho, entretanto? Venho deixar simples nota do que acaba de me ser mostrado por José Manuel Oliveira, o guardião da Casa e do Centro de Estudos Camilianos. É um testemunho profundamente tocante, com o qual Saramago respondeu à pergunta que ele próprio deixara na primeira passagem pela casa. A 28 de Fevereiro de 1999, poucos meses depois de ter recebido o Nobel, Saramago deslocou-se a S. Miguel de Seide, acompanhado de Pilar, depositou sobre a mesa de Camilo um magnífico ramo de rosas e escreveu no Livro de Honra: "Na casa onde Camilo saiu da vida para entrar na eternidade do génio, venho trazer rosas. Venho também trazer o prémio que me deram, o seu valor simbólico, que Camilo merece, como provavelmente nenhum outro escritor português. Eu, aprendiz, deixo rosas ao Mestre". E num exemplar da Viagem a Portugal que lhe é apresentado (e permanece na casa) deixou a mensagem que, finalmente, responde à pergunta tão áspera como os ramos secos da acácia do Jorge que lá continua ao fundo da escada: " A casa de Camilo onde todo o Portugal está". No Portugal que vamos descobrindo a partir de Seide está o Camilo, num interminável amor de perdição. Landim, a do louco, é logo adiante. Prazins, a da brasileira, está à distância de um grito. A azenha de Maria Moisés, que nos chama para uma das mais pungentes novelas do Minho, está a 800 metros. Lá fui, por meus próprios passos. Lá havemos de ir juntos, em calhando a crónica, amanhã ou depois.

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