Sinais

"Sinais" nas manhãs da TSF, com a marca de água de sempre: anotação pessoalíssima do andar dos dias, dos paradoxos, das mais perturbadoras singularidades. Todas as manhãs, num minuto, Fernando Alves continua um combate corpo a corpo com as imagens, as palavras, as ideias, os rumores que dão vento à atualidade.
De segunda a sexta, às 08h55, com repetição às 14h10.

Verde que te quero verde

Há oito dias, num artigo publicado em parceria com o Guardian, o jornal El Diario sublinhava algo verdadeiramente desconcertante nestes tempos em que decisores políticos, cientistas e fazedores de opinião primem, a todo o instante, a avisada e certeira tecla da necessidade de intensificação do combate à crise climática: muitas cidades da União Europeia são menos verdes do que eram há um século.

Lisboa está no roteiro das cidades europeias em que o crescimento urbano não se tem revelado o mais amigável no que respeita à plantação de árvores. Cem anos depois do verdadeiro culto da árvore que, como podemos confirmar folheando exemplares da Illustração Portuguesa, foi uma das marcas exaltantes da República, parecemos desencontrados da evidência sublinhada no mais recente relatório do Grupo Intergovernamental de Peritos sobre Alterações Climáticas: "nas cidades, as árvores combatem as alterações climáticas, quer de forma directa, capturando carbono, quer de forma indirecta, refrescando zonas urbanas, ajudando a reduzir o consumo de energia".

O artigo do Guardian cita dados recentes da OCDE: eles provam que, embora devesse ser óbvia para as autarquias a necessidade de plantar árvores, as zonas verdes têm vindo a diminuir desde os anos 90 em muitas cidades europeias. Algumas perderam até 10 por cento da sua superfície verde.

O jornal entrevistou Ana Luísa Soares, uma arquitecta paisagista da Universidade de Lisboa. Esta investigadora lembra que uma nova árvore pode custar ao município dois mil euros, em cinco anos. É preciso comprá-la, regá-la, podá-la, tratá-la de doenças. E ressalva que " a vida na cidade é muito dura para uma árvore, porque a terra é mais compactada e o ar mais contaminado". Mas a arquitecta-paisagista não hesita: "Necessitamos de árvores,. Mais árvores quer dizer pessoas mais felizes". Ana Luísa Soares começou a utilizar uma tecnologia que permite quantificar a relação custo-benefício, no que se refere à plantação de árvores. Os ganhos, ambientais e de saúde pública, quadruplicam em relação aos custos.

A notícia lembra a proposta feita o ano passado pela Comissão Europeia aos 27 para que garantam zonas verdes e arborizadas em 10% da superfície de todas as cidades, até 2050. E que, entretanto, se comprometam a não perder zonas verdes.

Nestes dias em que o debate ganha raízes ou altares em insensatos palcos enquanto dos espectros mais obscuros se escutam vozes propugnando desmesuradas fatias de poder, não se antevê que o tema motive pestanudas manifes ou arrebatados e venturosos cartazes de campanha.

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