Terra a Terra, Lisboa Capital Verde

Eleita capital verde da Europa, Lisboa partilha a distinção com o país, mostrando locais que tentam, todos os dias, serem mais verdes, mais ecológicos e mais sustentáveis. Concelho a concelho, cidade a cidade, vamos dar a conhecer as maravilhas das paisagens, do património, a gastronomia, as histórias e personagens de todos os cantos do país, numa emissão especial verde conduzida por Miguel Midões e com o apoio técnico de Joaquim Pedro e José Manuel Cabo.
Para ouvir na antena da TSF às terças-feira, depois das 15h, e em permanência em TSF.pt e em podcast.

Conhecer as paisagens de Portugal, porque "não podemos proteger o que não conhecemos"

Lisboa, que é a maior porta de entrada em Portugal, foi eleita em 2020 a capital verde da Europa, mas quer partilhar com o resto do país a distinção.

Neste pequeno retângulo do globo, que é Portugal, a riqueza das paisagens, a biodiversidade e os valores naturais são enormes e está tudo refletido na exposição Variações Naturais - Uma viagem pelas paisagens de Portugal, que abre ao público esta terça-feira, 24 de novembro de 2020, no Museu Nacional de História Natural, em Lisboa.

Esta exposição foi organizada pela Câmara Municipal de Lisboa, no âmbito da Lisboa Capital Verde Europeia, com o apoio do ICNF - o Instituto da Conservação da Natureza e Florestas, a Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa e, claro, do museu que a acolhe. O objetivo da exposição é o de despertar o interesse junto do público para a descoberta das paisagens e áreas protegidas de Portugal Continental e Ilhas.

Trata-se de uma mostra que destaca aspetos estéticos, científicos e ainda algumas curiosidades destas paisagens nacionais, dividida por setores/ecossistemas, criada com o objetivo de "olhar para a diversidade da paisagem de Portugal, muito diversificada, que acaba por se refletir na gastronomia ou na cultura", afirma Cristina Branquinho - comissária científica da exposição, professora na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa e Investigadora do Centro de Ecologia, Evolução e Alterações Ambientais.

A base de trabalho foram as áreas protegidas, "estimulando as pessoas a passear", uma vez que "com a pandemia o contacto com a natureza passou a ser mais natural e mais óbvio", considera. Cristina Branquinho acrescenta mesmo que "não conseguimos proteger o que não conhecemos. É fundamental saber o que o país tem. Poder subir às montanhas e sentir o fresco, poder ver a cor dos rios, olhar para o montado, entre outros", explica a investigadora.

As cidades são campos de biodoversidade

As cidades são espaços onde existe maior quantidade do que diversidade de espécies, mas as que existem "gostam" dos seres humanos. No meio da azáfama humana que são as cidades encontramos muita vida. Por exemplo, os pardais cantam mais alto devido ao ruído, os morcegos abrigam-se em edifícios e pontes, as ratazanas vão buscar alimento ao lixo. A diversidade de espécies nas cidades é menor, mas a abundância de cada espécie pode ser enorme: veja-se o número de baratas e pombos", pode ler-se no catálogo desta exposição.

A cidade aparece representada no início da exposição porque a maior parte daqueles que partem à descoberta do país vivem em cidades. Nelas "existem mais insetos do que aquilo que possamos imaginar. Na cidade só associamos os insetos que estão nas nossas casas, como as baratas ou os mosquitos, mas qualquer espaço verde da cidade é um polo de concentração de insetos. Desde que haja flora silvestre, flores, aparece uma multiplicidade de insetos", indica Patrícia Garcia Pereira, entomóloga, o ramo da ciência que estuda os insetos. Para esta exposição foram selecionadas as espécies que as pessoas melhor conhecem, "com presenças de espécies emblemáticas em todas as paisagens desta exposição".

Depois da cidade, somos convidados a subir às montanhas, não havendo duas montanhas iguais em Portugal. Francisco Petrucci Fonseca é professor e presidente do Grupo Lobo, uma associação não-governamental que aprofunda o estudo e divulga informação sobre o lobo que, no território português habita sobretudo sistemas montanhosos. "Eu que gosto de montanhas não me canso de voltar, encontramos sempre alguma coisa diferente quando voltamos", garante. Nesta exposição existe um espaço especial dedicado ao lobo ibérico, que mostra como o lobo em Portugal existiu do Algarve até ao Gerês, pois "o lobo adapta-se", "precisamos é que as pessoas pensem que o lobo faz parte dos ecossistemas", desconstruindo assim a ideia pré-concebida de "lobo mau", uma vez que o lobo é um animal que passa, na grande parte das vezes, despercebido.

"Os peixes de rio são os vertebrados mais ameaçados"

Maria Judite Alves, investigadora e vice-diretora do Museu Nacional de História Natural e da Ciência, é doutorada em Biologia e guia-nos rio abaixo, da nascente até à foz. "Atrevo-me a dizer que não há dois rios iguais", afirma. Em cada rio há espécies diferentes em rios que estão muito próximos geograficamente. "Temos uma diversidade de fauna muito grande associados aos rios e, por outro lado, os peixes do rio são os vertebrados mais ameaçados", com mais de 60% das espécies estão ameaçadas. O problema está na grande pressão humana nos ecossistemas ribeirinhos. "O grupo dos peixes de rio é o grupo de vertebrados mais ameaçados de Portugal", completa.

O facto de estarmos isolados do resto a Europa pelos Pirenéus contribuiu para que a "maior parte da fauna que existem não existem em mais lado nenhum do mundo", são espécie endémicas, com algumas que nem sequer existem em Espanha: "alguns tesouros da biodiversidade associada aos rios", acrescenta.

A exposição Variações Naturais - Uma viagem pelas paisagens de Portugal termina com um mergulho no mar. "A ideia é perceber o que se passa dentro daquela fina camada que observamos quando estamos na praia. Não sabem que, mergulhando na praia que toda a vida frequentaram, existe uma biodiversidade extraordinária", explica Miguel Pessanha Pais, investigador do MARE, o Centro de Ciências do Mar e do Ambiente. Doutorado em Biologia Marinha. Outro ecossistema que é valorizado neste contexto pelo investigador é o das poças de marés. "Há coisas extraordinárias, como toda uma competição por espaço quando a maré desce, temos peixes que conseguem aguentar altas temperaturas porque têm pouca água e estão expostas ao sol", acrescenta.

Uma exposição para se ver com calma, na qual não faltam explicações e novos conhecimentos, com habitats únicos e tipicamente portugueses.

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