TSF à Mesa

Portugal fora, as fronteiras entre regiões são traçadas pelas paisagens e pela mesa. Das cidades às serras ou na imensidão das planícies, da melhor tradição portuguesa ao vanguardismo mais ousado. António Catarino sugere um país gastronómico que vale a pena apreciar.

A Maria Rita do Romeu

Há, praticamente, século e meio, Clemente Menéres chegava a Jerusalém do Romeu, povoação situada uma dúzia de quilómetros a norte de Mirandela.

Viajara desde o Porto para comprar sobreiros e bateu à porta da única estalagem da povoação. Maria Rita era a proprietária; mas, às 4 da tarde em pleno mês de maio, nada tinha preparado para saciar o apetite do recém-chegado. O recurso foi assar bacalhau e servi-lo com pão escuro de centeio, uma novidade para o viajante.

Anos mais tarde, Maria Rita faleceu, a estalagem fechou e ficou em ruínas, até ser adquirida e restaurada em 1966 por Manuel Menéres, filho do patriarca da família proprietária de olivais, vinhas e montado e que investira em Jerusalém do Romeu. Construiu benfeitorias para fixar a população e até conseguiu fazer lá chegar, em 1905, a linha ferroviária do Tua, hoje uma saudade: resta a bonita ponte à entrada da povoação.

Hoje, alcança-se com rapidez, através da A4, a aldeia das rosas, onde o Museu das Curiosidades recorda outros tempos.

À mesa do restaurante Maria Rita, cujos lucros reverteram, até 1993, a favor de uma obra social de apoio a crianças da aldeia, não é difícil fazer marcha-atrás no tempo para saborear uma comida de conforto num cenário a condizer com os pergaminhos de uma casa com tradição.

O tempo criou uma patine que enobrece as três salas -- uma mais desafogada é ideal para grupos - refletindo o brilho dos lugares com história. Escrita nas receitas ganhadoras de fama e que alcançaram estatuto de património.

A sopa seca e os bacalhaus -- à Romeu e à nossa moda, assim escrito -- formam trilogia emblemática e mantêm-se na carta como ícones inamovíveis.

O menu de degustação propõe dois desses pratos mais famosos.

Para início de refeição tradicional, pasta de azeitona, muito saborosa; alheira e bolinhos de bacalhau de grande nível, com suculenta incorporação do gadídeo, apresentaram-se fofinhos e quentes;

A sopa seca, uma açorda confecionado no forno, com carne e couves, esteve à altura da tradição.

A açorda de espargos bravos, verdadeiramente divinal, evidenciou criterioso trabalho culinário, que resultou em perfeita harmonia de sabores.

Outras opções neste capítulo são feijoca à transmontana, com carne e arroz de legumes; posta e bifinhos na caçarola.

O bacalhau faz jus à tradição da casa, seja assado na brasa, com batata e pimentos, ou noutras duas versões: à nossa moda, vai ao forno a gratinar com batata e legumes; à Romeu, particularmente apreciado, é especialidade da casa: frito, passado por ovo e farinha, acompanhado com batatas cozidas passadas por ovo e fritas. A acompanhar, salada mista.

Nas sobremesas, várias são as escolhas, destacando-se a mousse de chocolate com azeite; o pudim de ovos e o leite creme queimado.

Os vinhos da Quinta do Romeu, produzidos com as uvas das vinhas mais setentrionais da Região do Douro, acompanham na perfeição os pratos da reduzida ementa deste restaurante com serviço simpático e a chancela da tradição, baseada em bons produtos e numa culinária segura para dar sabor a receitas que fazem a história da casa.

Restaurante Maria Rita, em Jerusalém do Romeu, Mirandela.

Localização: Jerusalém do Romeu (Mirandela)

Contacto: 278 939 134

GPS: 41.52997 N ; -7.05897 W

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