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Cheira a maresia, os barcos balouçam no portinho ao sabor da ondulação; há redes e utensílios de pesca espalhados na ruela de onde se divisa, em plano elevado, a guarita de vigilância, a guripa, no linguarejar da comunidade piscatória de Angeiras, praia a norte de Matosinhos.
A dois passos daquele posto que transmite segurança a quem anda na faina da pesca, um acastelado de casinhas dá um colorido muito especial ao cenário onde se destaca a CASA DA GURIPA.
Um restaurante aberto em julho de 2015, com alicerces numa história de amor pelo mar, que está tão perto e a pintar de azul a imensidade que se avista da casa com invejável localização e agradável esplanada.
Ouça a crónica completa de António Catarino
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A sala principal, no 1.º piso, - há outra no andar superior, ideal para grupos até uma dezena de comensais - é particularmente acolhedora. Predominam o azul forte e o branco; as janelas que dão para o mar garantem luz natural; decoração com bom gosto; amesendação contemporânea; copos a preceito.
Esta é uma casa de gente inquieta ao comando dos fogões, o que se traduz num padrão diferente face à restauração local, mais tradicionalista.
Na cozinha, o chef Hélder Sá, coadjuvado pelo jovem Luís Andrade, num cruzamento interessante de estilos, trabalha à base de ingredientes simples e com qualidade, o lado mais tradicional da cozinha portuguesa. Com um toque não exagerado de sofisticação, sem camuflar os produtos.
O convite à partilha ressalta das apelativas propostas que dão continuidade às entradas: bola de carne; azeitonas; queijinho curado ou às tábuas de queijos e compotas ou de enchidos e azeitonas ou mistas.
Para petiscar, há, entre outras sugestões: cornetos de sapateira; tábua com wagyu e cogumelos salteados.
Do mar, vem o atum, fresco e saboroso, servido no formato pica-pau. Com batata-doce e molho cítrico, justificou nota elevada, aliás, extensível ao imperial e vistoso tártaro de bacalhau com guacamole e coroado com três fatias bastante finas de pão torrado. Muita frescura, excelente textura de sabores neste arrebatador início com um bacalhau de meia cura, marinado durante algumas horas e com um tempero especial.

Na mesma linha apresentou-se a preceito, o polvo à galega: rodelas finas do octópode, muito tenro e uns pozinhos de pimentão.
Em seguida, atingiram o superlativo, as insinuantes amêijoas à Bulhão Pato: carnudas, garbosas na apresentação e com um olho de acordo com os cânones.
No curioso capítulo «nem carne, nem peixe», os peixinhos da horta com maionese levaram o palato ao delírio: o feijão-verde submetido a um choque térmico e depois seco, pacientemente, em papel e envolvido por fino polme, alcançou a distinção, e fez jus à receita portuguesa do século XVI, que deu origem à tempura japonesa.
Outras opções: pimentos de Padrón com flor de sal e brás de cogumelos com alcachofras.

No peixe, a escolha recaiu num fresco rodovalho grelhado, acompanhado com batata a murro e legumes salteados.
Na carta surgem igualmente paella do mar - um best-seller ideal para grupos -, polvo à lagareiro; risotto de gambas com espumante e lima; arroz do mar e por encomenda, cataplana de peixe e mariscos, feita segundo um lento ritual e cozinhada em lume branco.
O peixe do dia que surgir na lota é, naturalmente, outra opção.

© Facebook Casa da Guripa
Nas escolhas cárnicas, sobressai o icónico prego à Guripa em bolo do caco com queijo da Ilha e batatinhas 'chips'. Um final arrasador, pelo sabor e suculência da carne, grelhada no ponto.
Para doce remate, tarte de limão merengada.
Garrafeira adequada; serviço muito simpático e profissional nesta CASA DA GURIPA e de sabores esplêndidos, requintados.
Em Angeiras, na costa a norte de Matosinhos.
Localização: Angeiras (Matosinhos)
Telef.: 910 609 228