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Quando as crianças não gostam e vão contrariadas para o futebol ou para o ballet, por exemplo, ou quando a atividade lhes tira o tempo todo para não fazerem nada, os pais devem refletir. É a opinião de Mónica Pires, psicoterapeuta da criança e da família e professora e investigadora na Universidade Autónoma de Lisboa.
O ideal é que a criança possa experimentar "como forma de se conhecer a si mesma e de pôr em prática as suas competências" e depois escolher. É certo que as atividades extracurriculares ajudam a desenvolver várias competências, mas devem ser escolhidas com bom senso e devem ser fonte de prazer. Muitas vezes, lembra Mónica Pires, o problema está no facto de a atividade exigir uma grande sobrecarga de horário ou estar associada à competição e nem todas as crianças têm prazer ou querem competir. "Algumas têm prazer em competir e é uma forma saudável de libertar as tensões, a ansiedade ou até a agressividade e a necessidade de agitação e de movimento, mas nem todas as crianças têm um perfil de competição."
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Para Mónica Pires, "as atividades extracurriculares são importantes para a criança, desde que lhe deem prazer" e o papel dos pais é guiar a criança na descoberta e, ao mesmo tempo, ajudar a que mantenha a perseverança."A atividade é benéfica com conta, peso e medida. Ajuda a desenvolver competências complementares à escola, como por exemplo o trabalho de equipa, as capacidades de liderança, a disciplina, o trabalho por objetivos, competências de trabalho que vão ser importantes ao longo da vida. E serve também para trabalhar a resiliência e testar limites, mas, em excesso, retira tempo livre à criança." E esse tempo livre é essencial para a imaginação e criatividade.
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Ou seja, se houver equilíbrio, é positivo que a criança tenha uma atividade extracurricular, para desenvolver as outras competências que lhe estão associadas. Importante é que a criança seja envolvida na escolha. O que o pai ou a mãe querem pode não ser o que a criança gosta.
E quando as crianças estão sempre a desistir? Primeiro, querem jogar futebol, depois já não querem, preferem o judo, mas acabam por desistir, e, afinal, querem fazer outra coisa qualquer. Os pais devem insistir para que levem uma atividade até ao fim? "Depende muito da criança. Imaginemos que há aqui uma problemática subjacente que tenha a ver com a dificuldade em manter o foco numa determinada atividade ou a pouca resistência à frustração. Estamos a falar de problemas de outra ordem. Portanto, é importante conhecer bem a criança - e acredito que ninguém conhece melhor do que os pais - e tentar perceber até que ponto aquela criança precisa de ajuda", responde Mónica Pires. Na opinião da psicoterapeuta, é importante que a criança tenha a possibilidade de fazer várias experiencias, de experimentar várias modalidades ou atividades artísticas, mas, se há uma desistência constante, convém avaliar e tentar perceber se é porque não gosta mesmo ou se tem uma dificuldade que exige ajuda.