- Comentar
Foi já depois de cegar, que o psicólogo e professor universitário, se entregou à descoberta da massagem terapêutica. Desportista desde miúdo, Luís Fernandes sempre soube ler os sinais do corpo, mas a cegueira provocada há cerca de 20 anos por um glaucoma, aguçou-lhe o sentido do tacto, e as mãos deslizam hoje sobre a marquesa, disponíveis para tactear memórias entranhadas no corpo, que podem na verdade esconder dores bem mais profundas, para lá de uma qualquer rigidez muscular. É ali, na marquesa, entregando o corpo às suas mãos, que nos cruzamos com o Lopes Massagista, o observador militante do mundo que em vez de trabalhar com os olhos dos outros, recupera a sua visão, através do trabalho corporal.
Por isso escreve, que o trabalho de mediação corporal " é restaurador, (...) ligando a cabeça que pensa e controla e o corpo que carrega e obedece", para concluir que a linguagem do corpo, lida por um profissional habilitado, pode ser concebida como uma técnica de intervenção psicológica.

Luís Fernandes
© Egídeo Santos
O autor confessa que o primeiro passo foi a descoberta de si próprio, e questiona as lentas aprendizagens da Academia, mais cabeça do que corpo, fechada sobre si mesma, na rigidez do jargão que empena o diálogo Corpo Mente, numa tradução literal da expressão inglesa Body Mind. No livro editado pela Contraponto, no final de Fevereiro, Luís Fernandes desconfina a linguagem para nos alertar para o óbvio :" a cabeça não anda sozinha, mas nunca ninguém viu um corpo sem cabeça a andar na rua. A cabeça também é corpo". E fica desde já um outro aviso, sobre a dimensão a que chama, ditadura da imagem corporal " vivemos obcecados com a imagem, o corpo passerelle, responsável por algum do sofrimento psíquico de hoje em dia. O narcisismo nunca esteve tão em alta como hoje".
E como é que Luís Fernandes, cego há 20 anos, se vê ao espelho?
Subscrever newsletter
Subscreva a nossa newsletter e tenha as notícias no seu e-mail todos os dias
"Um Dia De Cada Vez", um programa de Teresa Dias Mendes, com edição de som de José Guerreiro.