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Quando o neto mais velho, lhe disse que era uma pessoa de risco, nem pensou que se estivesse a referir a ela, depois apurou o ouvido para a mensagem dirigida aos maiores de 65 , e percebeu que lhe tocava. Resistiu, "então não tenho doenças, vivo sozinha, quem é que me ia comprar o pão, a carne, o peixe, um garrafão de água? "E veio-lhe à memória uma frase batida, "este país não é para velhos". Sérgio Godinho será trauteado na conversa, Jorge de Silva Melo também e ainda Jorge Palma ou Mário Viegas.
Amigos, companheiros de palco e de canções e de poemas. Palavras ditas ou cantadas, tantas personagens. Uma vida habitada e habituada ao confinamento, de não ter trabalho.
Lia Gama vai sobrevivendo, e confessa que o desconfinamento tem sido doloroso, " ensaiar de máscara, sufocar nos ensaios", olhar a precariedade "total e medonha" ,observando os outros, e a dela fixa numa reforma de 400 euros que pagam a renda da casa onde vive há 50 anos, " não tenho ponto de fuga nenhum", desabafa perante o cenário de uma segunda casa com jardim fora da cidade grande. "Há dias em que estou farta", assume, para logo depois nos garantir que tudo passa quando ouve a palavra Acção.
Ainda há dias gloriosos, mas foi-se" a inocência e o entusiasmo e o fascínio" .
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Acredita que melhores dias virão, seja numa praia preferida, que diz ter, ali para os lados da Zambujeira do Mar, ou numa ilha deserta onde se entretinha com a Bíblia ou a fazer colares de conchinhas. Podia ser também na cidade de Buenos Aires onde poderia viver, ou no terraço da casa de Lisboa com as plantas que já precisam de mudar de vaso. Podiam ser muitos lugares, sem espelhos e sem papéis do passado, " que a façam deitar uma lagrimita".
Sem as máscaras, que hoje sufocam a actriz Lia Gama.