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Quando aos 15 anos, Lídia Muñoz perguntou se podia ir estudar Teatro, ninguém se opôs, mas o "sim" da avó tinha um mas "podes ir, mas eu vou ver o teu primeiro exercício, e se sentir que não tens vocação, terás de encontrar o teu caminho". Lídia não se amedrontou, foi, e no primeiro exercício, já na Escola de Teatro de Cascais, Eunice Muñoz sentou-se na plateia, e chorou.
Lídia Muñoz recorda o abraço e as palavras. "Sim, é isto. Podes continuar." E nunca mais pôs em questão a vocação da neta. Hoje, passados 15 anos sobre esse dia, Eunice Muñoz conta como e porque tinha de ser assim: "Eu estava especialmente interessada em fazer uma verificação. São muitos anos, é muito tempo, a conhecer jovens actores. Não me enganaria, com certeza." Diz mais: "A forma de ela amar o teatro era completamente compreensível para mim." Porque avó e neta amam o teatro na única forma de respeitar a profissão. Exigência, trabalho, disciplina, rigor, dedicação total.

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Já contracenaram na peça O Comboio da Madrugada, de Tennessee Williams, com encenação de Carlos Avilez, o mestre Carlos Avilez, e agora sobem ao palco sozinhas, sem palavras, embaladas pela pauta de Nuno Feist e encenação de Sérgio Moura Afonso. A MARGEM DO TEMPO, é o lugar onde as duas actrizes são a mesma mulher, em idades diferentes. Um espectáculo contemplativo. "Quem quiser ir ver, tem que aceitar o tempo que ele tem, sentar-se e aceitar", explica Lídia Muñoz, que fala também dos ensaios, onde a avó faz parecer tudo fácil, "mas depois eu chego e é tudo tão difícil. Ela é incrível".
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A peça estreia dia 20, no Auditório Eunice Muñoz, em Oeiras, e depois vai cirandar pelo país. O mais certo, é que em Julho, quando a actriz mais velha completa 93 anos, ainda estejam em palco, celebrando a margem do tempo.
Uma Questão de ADN, é mesmo a questão entre as duas mulheres, avó e neta, amigas, confidentes, cúmplices, e também actrizes.
Façam o favor de desligar os telemóveis para escutar o esplendor da voz.
Ouça aqui o programa na íntegra
E para aceitar o tempo.
A Morte é a Curva da Estrada, e é no poema de Fernando Pessoa, que lhe pressentimos a serenidade da partida que há-de ser. Porque será num campo, numa curva da estrada da Amareleja, onde nasceu, que Eunice Muñoz vai sempre continuar a existir.