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É uma semana atarefada para Ivo Ferreira. Os últimos dias têm sido agitados, entre visionamentos, ante-estreias, conferências de imprensa, entrevistas, um olho na conversa, outro no telemóvel. Hotel Império estreia esta quinta-feira nas salas de cinema.
É a quarta longa-metragem do realizador, desta vez filmada em Macau. Maria (Margarida Vila-Nova) é a filha de Gustavo (Cândido Ferreira), vivem num hotel decrépito em Macau, cada vez mais difícil de manter. Há dívidas, há jogo, há prostituição e há o regresso de Chu (Rhydian Vaughan),filho de Gustavo e da ex-mulher, coproprietária do hotel, que, 20 anos depois, procura vingança. Uma visão entre o passado e o presente, com as memórias do realizador que ali vive desde 1994, no espaço de hoje, 20 anos depois da transferência do poder da região para a administração chinesa.
Ivo espera a curiosidade do público português, espera que o filme seja "apetecível", e fala da forma "comovida" como Hotel Império foi recebido em Macau. E agora, é ele o protagonista. Ele e o pai. Para a rodagem do filme das suas vidas.
Ouça aqui "Uma Questão de ADN", da jornalista Teresa Dias Mendes
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O miúdo era muito miúdo quando comunicou lá em casa que queria ser realizador de cinema. "Porreiro", desabafa o pai por essa altura (finais dos anos 80), como quem desabafa a preocupação de um futuro incerto. "Ser realizador de cinema em Portugal era como ser astronauta. E só se vai uma vez à lua".
Mas o miúdo fez do tripé e da câmara um vaivém espacial. E lá foi ele, sem fato de astronauta, mas cheio de sonhos e de vontade de viajar pelo mundo. Cá anda ele, de ressaca em ressaca.

Convidados do programa “Uma Questão de ADN”, Ivo Ferreira e Cândido Ferreira
© Gerardo Santos / Global Imagens
"Sempre que um filme acaba, penso que não quero mais, mas é como estar de ressaca: bebe-se um copo para passar. Eu faço outro filme." E o pai, que cedo lhe percebeu a determinação, segue-lhe os sonhos, as luzes, cada viagem à Lua.
Foi o lado efémero do teatro que lhe ateou o desejo pelo cinema: "Os filmes ficam". Ivo é filho de dois atores, Cândido Ferreira e Carmen Marques. Cresceu nos palcos, foi ator, desenhador de luzes, produtor. Aos 14 anos fez um cartaz para um espetáculo do pai "Os Passos em Volta", de Herberto Hélder, e ganhou um laboratório de fotografia.
É na fotografia que vê a nitidez da imagem. A definição é outra conversa. "Vive-se demasiado obcecado com a definição da imagem, eu procuro mais a definição de ideias".
Cândido Ferreira é ator "residente" nos filmes de Ivo. Aprendeu a gostar de cinema com o realizador Joaquim Leitão, mas é com o realizador Ivo Ferreira que mais gosta de trabalhar. "Somos rapazes com bom feitio". E, de cena em cena, momento a momento, vamos projetando a relação entre os dois. E eles vão na conversa como quem vai com o vento, que é a saudação chinesa, para se desejar boa viagem: "Vai com o vento". Pode ser até à lua!
Uma questão de ADN, com Teresa Dias Mendes, esta quinta-feira, depois das 19h. Repete de madrugada, a seguir à 1h, e no domingo, depois das 14h.