Uma questão de ADN

Podem ser irmãos, avós e netos, pais e filhos, companheiros, marido e mulher... São pessoas da mesma família que se juntam para uma conversa em que se fala de tudo. São percursos de vida e testemunhos que atravessam diferentes gerações. O que os une para lá do apelido, o que os separa para lá da diferença de idades.
Quarta-feira, depois das 13h00. Repete ao domingo, após as 14h00. Com Teresa Dias Mendes

"Movem-me causas, não me movem cargos." Edite Estrela em Uma Questão de ADN

Sobre a futura mesa da Assembleia da República, "continuarei a guardar silêncio". Edite Estrela prefere esperar pela confirmação das escolhas do Partido Socialista, afirmando que sejam quais forem os nomes, terão o seu voto. A conversa é outra, ao lado do neto que, a 30 de janeiro, votou pela primeira vez. Um dia simbólico para Diogo Maria Cardoso, que às vezes dá por ele a pensar: "Não sei como é que a minha avó atura isto..."

"Bonita, séria, generosa, preocupada com o bem-estar do outro", são as palavras escolhidas pelo neto sobre a avó Edite, com quem diz aprender muito e muito conversar. "Somos uma equipa, sei que posso falar de tudo com ela e que não me vai julgar. "Há aqui a dimensão pessoal, a da tribo, e a outra, que reflete o olhar jovem sobre o percurso político de Edite Estrela. Vamos por partes.

Diogo Maria Cardoso interessa-se pela política, mas quanto baste. Fez 18 anos em janeiro, 20 dias antes da data das legislativas, dia em que orgulhosamente sozinho exerceu o seu primeiro voto: "Embrulhei o boletim tantas vezes que não cabia na ranhura, o senhor da mesa teve de do desdobrar para entrar." O voto é secreto, mas Diogo não esconde que foi na avó (vota em Lisboa) e no PS. "Foi com muito orgulho que votei na minha avó, que sei que é competente e já fez tanto por mim, e no PS porque é a ideologia em que acredito."

E claro, "seria um orgulho" se a avó assumisse o cargo de Presidente da Assembleia da República, mas como o voto de Edite Estrela sobre esta matéria é o do silêncio, o neto cumpre a disciplina de voto familiar, escutando as palavras ponderadas de Edite Estrela: "Movem-me as causas, não me movem os cargos. Sou uma pessoa que estou bem comigo própria, todas as funções que desempenhei, foi com entusiasmo. Eu gosto da política."

Evitando a polémica instalada nas últimas semanas, que já levaram Ferro Rodrigues a manifestar solidariedade institucional, perante o que considera serem "vis ataques pessoais e de carácter, em circunstâncias inadmissíveis em democracia" Edite Estrela remata o assunto, explicando que tem recusado todas as entrevistas políticas, e esclarece que "quaisquer que sejam os nomes indicados pelo PS para a mesa da AR, terão o meu voto, e o meu apoio, não digo mais nada."

Seria a primeira mulher do PS a assumir as funções de 2.ª figura do Estado (Assunção Esteves, do PSD, foi a única até hoje). "Sou defensora da necessidade de aumentar a representação feminina nos cargos de poder, seja na Presidência da República, Presidência da Assembleia da República, no Governo, no Conselho de Estado... Temos muitas mulheres com muito valor, que precisam de oportunidades para provar aquilo que valem."

É uma mulher entre o desassossego e a tranquilidade, "é o meu estado de espírito normal".

As rosas também picam "como na vida, temos altos e baixos. Temos de encarar a vida, fruindo a beleza e o perfume das rosas, tentando evitar os espinhos, sabendo que algumas vezes, haveremos de nos picar. É inevitável". Ao que Diogo acrescenta: "A minha avó já esteve envolvida em polémicas, é desconfortável ouvir algumas críticas, confesso, e sinceramente, às vezes penso, 'Não sei como é que a minha avó atura isto durante tantos anos', porque na política nunca se dizem as coisas na cara."

É uma relação cúmplice entre avó e neto. Da freguesia de Belver, em Carrazeda de Ansiães, as raízes transmontanas de Edite Estrela, às Crónicas de Bem Dizer, nos ecrãs da RTP, das conversas no patamar das escadas durante o confinamento, em Lisboa, à descoberta da rádio, o caminho faz-se conversando. E experimentando.

"Tenho permissão?", pergunta Diogo Maria Cardoso, "sempre quis dizer isto: 'Tudo o que passa, passa na TSF'".

Uma Questão de ADN, com Teresa Dias Mendes e cuidado técnico de Margarida Adão.

Mais Notícias

Outros Conteúdos GMG

Patrocinado

Apoio de