Uma questão de ADN

Podem ser irmãos, avós e netos, pais e filhos, companheiros, marido e mulher... São pessoas da mesma família que se juntam para uma conversa em que se fala de tudo. São percursos de vida e testemunhos que atravessam diferentes gerações. O que os une para lá do apelido, o que os separa para lá da diferença de idades.
Quarta-feira, depois das 13h00. Repete ao domingo, após as 14h00. Com Teresa Dias Mendes

"Não sei se continuaria militante do PCP"

As memórias de Adriano Correia de Oliveira em "Uma Questão de ADN".

Maria Matilde Lemos e Isabel Correia de Oliveira, são a viúva e a filha mais velha do homem a que muitos se referem como o Trovador da Liberdade. Num ano repleto de iniciativas que assinalam 80 anos sobre o nascimento de Adriano Correia de Oliveira, as duas mulheres da sua vida soltam a voz e o perfume de duas dúzias de cravos. Foi assim que tudo começou.

"Ver e amar-te foi obra do momento, nunca mais nos largámos" , Maria Matilde Lemos recorda o dia 23 de Fevereiro de 1966, como se fosse ontem" nunca tinha recebido flores na minha vida, abri a porta e entregaram-me um ramo grande de cravos". Não traziam cartão, mas o próprio Adriano tratou de confirmar pessoalmente que ela as tinha recebido. Os dois tinham-se conhecido poucos dias antes, em Coimbra, na república Rás-te-Parta, onde Matilde foi passar a pausa de Carnaval com 2 amigas. Reza a história que Adriano estava de malas feitas para ir até Avintes, mas quando descia as escadas e viu Matilde pensou " É material...", e deu meia volta para trás, juntando-se " ao material". No ano seguinte nascia Isabel, ´ela não esquece o colo" nunca me senti tão segura como naquele colo", as mãos grandes e os 18 beijos que o pai a obrigava a dar-lhe todas as noites antes de dormir. Só não a deixava cantar " está caladinha", dizia Adriano, proibindo-a de trautear o que fosse " tocava pandeireta e não abria a boca". Mãe e filha não foram abençoadas com os dotes vocais de Adriano Correia de Oliveira, mas seguiam-no para todo o lado.

Serra acima, serra abaixo, Maria Matilde perdeu a conta aos quilómetros percorridos nas viagens entre espetáculos e gravações. Ela conduzia, Adriano e os miúdos dormiam. Talvez por isso, ainda hoje, nas suas caminhadas diárias, cerca de sete quilómetros, continue a viajar com ele " vai sempre comigo, levo o telemóvel, ponho os auriculares e ouço as músicas dele. O Adriano vai sempre comigo."

A vida curta de Adriano Correia de Oliveira, (morreu a 16 de Outubro de 1982, vítima de uma hemorragia esofágica) deixou-nos músicas e canções que sobrevivem ao vento que passa , embora Maria Matilde o sinta esquecido entre as novas gerações.

Falam de Zeca e de Fausto, de Vitorino ou Paulo Sucena, dos amigos e dos que o trataram mal: " o meu pai partiu de coração partido " sabe dizer Isabel referindo-se ao PCP, do qual se teria afastado, está convencida Maria Matilde "não sei sequer se continuaria militante. Ele ficou muito magoado."

Com risos, lágrimas e canções, Adriano Correia de Oliveira é quem hoje nos leva pela Trova do Vento que Passa.

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