Verdes Hábitos

Agir é preciso! As mudanças de hábitos em tempos de emergência climática. As grandes questões, os desafios, os problemas relacionados com a sustentabilidade e o ambiente. "Verdes Hábitos" na TSF com Carolina Quaresma e a Associação Ambientalista Zero. Às segundas-feiras depois das 16h40 e sempre em tsf.pt.
(Até 2021 o programa foi da autoria de Sara Beatriz Monteiro e Inês André de Figueiredo).

Mobilidade, limpeza e preservação. Como manter as praias saudáveis?

Sol, areia e água são três dos ingredientes principais para o verão que já está quase aí. No Verdes Hábitos desta semana, Francisco Ferreira, da associação ambientalista Zero, explica quais são os problemas ambientais mais frequentes nas praias portuguesas e os elementos mais importantes para a qualidade das zonas balneares, e deixa também alguns conselhos para que as pessoas possam contribuir para a sustentabilidade destes locais.

Quando o calor aperta as praias são um dos locais preferidos dos portugueses. Mas estes locais também têm problemas ambientais que devem ser combatidos para uma maior sustentabilidade. Francisco Ferreira, da associação ambientalista Zero, explica que em causa está, por exemplo, o "excesso de carga", isto é, "demasiadas pessoas para o espaço", bem como o comportamento dos cidadãos, que leva ao aumento da poluição das praias.

"Determinadas zonas que deveriam ser preservadas, nomeadamente, dunas próximas, o próprio espaço urbano que, às vezes, confina com a praia acaba por ter problemas de acessibilidade de uma pressão excessiva, quer da própria praia, quer da zona próxima. Por outro lado, nós continuamos com comportamentos que não são os desejáveis, temos plástico que nos chega às praias pelos rios ou pelo oceano e muito dele acaba por ser consequência da nossa utilização das praias. Quem fala de plásticos, fala de lixo em geral que poderia e deveria ser evitado. Depois temos ainda a própria qualidade da água das praias que utilizamos e esse é um aspeto crucial para garantirmos a saúde pública, além também da qualidade das areias", afirma.

De acordo com Francisco Ferreira, os comportamentos das pessoas é bastante importante no que à poluição das praias diz respeito, mas a falta de infraestruturas também é um problema. "Uma praia suja tem muito a ver com aquilo que é a nossa falta de cuidado, mas por outro lado, com falta de infraestruturas que funcionem convenientemente, nomeadamente, no que respeita ao tratamento das águas residuais, sejam elas domésticas, sejam elas industriais, e também a chamada "poluição difusa", ou seja, muitas das escorrências de terrenos onde a poluição não está a ser devidamente cuidada e é arrastada para os cursos de água e depois polui esses cursos de água e o oceano. As consequências são quer para o ecossistema, quer para a saúde pública de quem utiliza essa água para os diferentes fins, nomeadamente para fins balneares."

"Nem todas as praias são zonas balneares"

Há um aspeto para o qual devemos ter atenção quando vamos à praia, porque nem todas são zonas balneares. Francisco Ferreira enumera as diferenças entre uma praia, uma zona balnear e uma água balnear: "Temos muitas praias, mas muitas delas não estão classificadas como zonas balneares, e portanto não há análises à água e não se sabe se elas estão ou não em condições. Uma zona balnear é uma zona que tem uma água balnear e essa água balnear está devidamente avaliada, caracterizada e temos informação para decidir se podemos ou não utilizá-la. Há aqui também outras questões do ponto de vista da segurança da utilização de uma praia que não tem vigilância e que deve ser evitada", refere.

A avaliação da qualidade da água de uma zona balnear está prevista na legislação, sublinha o especialista. "De acordo com o próprio historial da qualidade da água de uma zona balnear temos uma determinada periodicidade que pode ser semanal, quinzenal ou mensal e são avaliados dois parâmetros microbiológicos: Escherichia coli e Enterococus intestinais, que nos dão uma ideia de uma potencial contaminação. Há também outros parâmetros que têm a ver com a própria avaliação visual da água e a presença de salmonela, que é um dos aspetos que, às vezes, leva algumas praias a serem também encerradas por razões de saúde pública", esclarece, acrescentando que estes dados são coordenados pela Agência Portuguesa do Ambiente e disponibilizados na internet e à entrada das praias.

Praias costeiras, interiores e de transição. Quais são as mais sustentáveis?

As praias são divididas entre as costeiras, vulgarmente conhecidas por praias marítimas, as interiores, ou fluviais, e as de transição. Não sabe a diferença entre elas? Francisco Ferreira responde: "Portugal tem uma costa enorme, portanto dominam no total do continente e das regiões autónomas as praias costeiras. Para se ter uma ideia temos 643 zonas balneares e 73%, ou seja, 471 são costeiras. Depois temos as de transição que são aquelas que estão em zonas de estuário, na foz no rio, e essas representam 4%. E já temos 147 praias interiores, ou seja um total de 21%."

O especialista admite que "é muito difícil falar de sustentabilidade das praias", mas há dois aspetos que devem ser tidos em conta: "As praias interiores são muito importantes, porque elas conduzem ao desenvolvimento económico, a uma mais-valia social do interior e permitem também que nós não tenhamos uma pressão muito grande sobre o litoral", assinala. No entanto, "é muito mais difícil garantir a boa qualidade da água nestas praias interiores, porque uma coisa é a capacidade de diluição de alguma poluição dos oceanos, outra coisa é termos uma albufeira ou um rio onde isso é mais limitado."

Praias com galardões: a "bandeira azul" e a "zero poluição"

Todos os anos, diversas organizações atribuem galardões às praias. A "bandeira azul" é um dos mais conhecidos. Em 2022, 393 praias portuguesas receberam esta distinção, mais 21 praias do que no ano passado. Francisco Ferreira detalha que os municípios têm de se candidatar para receber este galardão, onde a qualidade da água "é um aspeto importante", visto que em causa está uma classificação de "excelente". "Mas há muito mais para que uma praia mereça este galardão, ou seja, aspetos relativos às acessibilidades, às atividades que são lá desenvolvidas, a todo um conjunto de aspetos de preservação da própria praia", diz.

A associação ambientalista Zero, da qual Francisco Ferreira faz parte, atribui a distinção de "zero poluição" às praias portuguesas. Em 2022, há 58 praias com poluição zero em Portugal, mais cinco do que em 2021, e pela primeira vez há uma praia interior na lista. De acordo com os dados divulgados, os concelhos de Albufeira e Aljezur têm cinco praias com "zero poluição" cada, Tavira tem quatro, Alcobaça, Faro, Porto Santo (na Madeira), Sesimbra, Vila do Bispo e Vila do Porto (nos Açores) têm três. No total, há 29 concelhos portugueses com pelo menos uma praia com esta distinção.

"Ter praias zero não é fácil. Para termos uma praia zero temos que ter três anos de análises onde não se detetou qualquer contaminação microbiológica e, portanto, são praias excelentes. É muito mais fácil nós termos uma praia costeira menos suscetível à poluição a ter este registo de poluição zero, em linha com aquilo que se pretende no Pacto Ecológico Europeu, do que uma praia interior. E é com satisfação que vemos que, enquanto no ano passado e há dois anos não tivemos qualquer praia interior, este ano temos no Sabugal, a Albufeira de Alfaiates. Ter uma praia zero é uma exigência tal que realmente apenas uma fração muito pequena, nove por cento do total das 643 zonas balneares em funcionamento é que merece esta classificação", considera.

Mas o que é que é preciso para uma praia ser "zero poluição"? "É realmente este registo incólume, é eu não ter qualquer episódio de poluição detetado. Há muitas praias que respeitam os valores limite e são excelentes. Praticamente 90 por cento das praias em Portugal são excelentes, só temos duas praias classificadas como "más", de acordo com a legislação. Mas dentro destas excelentes, nós fazemos análises durante três anos e não detetarmos qualquer poluição é obra e é isso que queremos distinguir e promover", indica Francisco Ferreira.

Como agir para deixar as praias mais saudáveis?

Há ainda um "grande trabalho" para fazer no que toca à qualidade das praias. No entanto, "comparativamente com o resto da Europa estamos muito bem".

"Temos ainda duas praias com uma classificação de 'má' do ponto de vista da qualidade da água: a praia da Batata, em Lagos, e a praia do Ilhéu de Vila Franca, em Vila Franca do Campo, na ilha de São Miguel. Estes casos têm mesmo de ser ultrapassados, têm a ver com situações de esgotos que não estão a ser devidamente tratados ou estão a ser lançados perto destas praias e a influenciá-las. Há aqui ainda um esforço para evitarmos este tipo de contaminação", sustenta.

Francisco Ferreira deixa alguns conselhos para que possamos contribuir para uma maior sustentabilidade das praias: "O principal conselho é muito simples: deixarmos a praia melhor do que quando lá chegámos. Se nós tivermos essa preocupação de não deixarmos qualquer lixo, se possível até, e as praias com bandeira azul têm essa possibilidade, separar o lixo e colocá-lo para reciclagem através da recolha seletiva nos diferentes recipientes."

"Nós temos praias absolutamente fantásticas. Se não pisotearmos as dunas, se também procurarmos usar os transportes públicos em vez de levarmos mais um carro para junto da praia... Estas questões da mobilidade, da limpeza, da preservação dos ecossistemas e também recolhermos informação sobre a qualidade da água e sobre atividades de preservação que possam estar a ocorrer já é um contributo muito importante neste verão que se quer tão sustentável como as muitas praias que temos e que são excelentes do ponto de vista da qualidade da água e da paisagem que enquadram", conclui.

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