Verdes Hábitos

Agir é preciso! As mudanças de hábitos em tempos de emergência climática. As grandes questões, os desafios, os problemas relacionados com a sustentabilidade e o ambiente. "Verdes Hábitos" na TSF com Carolina Quaresma e a Associação Ambientalista Zero. Às segundas-feiras depois das 16h40 e sempre em tsf.pt.
(Até 2021 o programa foi da autoria de Sara Beatriz Monteiro e Inês André de Figueiredo).

Reciclagem ou reutilização: qual a opção mais sustentável?

Durante este mês decorre a iniciativa "Julho Sem Plásticos", que pretende envolver todas as pessoas "em ações para reduzir a presença dos plásticos descartáveis no ambiente". Apesar de fazer "parte da solução", a reciclagem não é suficiente. Por isso, a aposta deve ser a reutilização, o que permite que os produtos sejam usados múltiplas vezes por diferentes pessoas ou marcas. No Verdes Hábitos desta semana, Susana Fonseca, da associação ambientalista Zero, explica quais os benefícios da reutilização e dá alguns conselhos para que esta prática seja aplicada no dia a dia.

O aumento do uso de embalagens e produtos descartáveis de plástico resulta em impactos ambientais negativos, como é o caso da poluição. Para reverter esta tendência, Susana Fonseca, da associação ambientalista Zero, explica que a aposta na reciclagem "não é panaceia" e, por isso, a opção mais sustentável e amiga do ambiente é a reutilização, mas há aspetos importantes que devem ser tidos em conta.

"A reciclagem, tal como a eficiência energética, fazem parte da solução. É bom que exista esta solução da reciclagem, mas já percebemos que, mesmo que nós consigamos otimizar a reciclagem, não é suficiente para o desafio ambiental e social que enfrentamos", defende, sublinhando que "agora que temos uma guerra na Europa em que é óbvio que a reciclagem é uma solução muitíssimo interessante, porque não temos de ir buscar mais longe os materiais, temo-los aqui, mas continuamos a ter a necessidade de produzir novas embalagens, até porque muitos dos materiais que enviamos para reciclagem não podem voltar a ser utilizados para embalagens alimentares, pelo menos para já, à luz do conhecimento que temos".

"Para muitas destas utilizações, nós temos sempre de utilizar matérias virgens e isso, por exemplo, quando deixamos de pensar apenas na reciclagem e passamos para soluções como a reutilização, já não acontece, porque uma embalagem reutilizável pode e deve ser reutilizada dezenas de vezes", afirma a especialista.

Apesar de a reutilização ser considerada como a "solução mais sustentável", tem algumas "condições".

"Não é porque se diz que é reutilizável que é mais sustentável. Nós temos que ter um sistema de apoio à reutilização que seja ele próprio eficiente e que estimule a própria eficiência da reutilização, seja em termos dos locais de recolha das embalagens, de logística, de retorno. Isto no caso em que a reutilização se aplica quando a embalagem é devolvida pela pessoa e entra num sistema que é depois enviado para a empresa e é feita a higienização. Todos estes sistemas que são mais coletivos requerem planeamento e gestão para ter um maior benefício possível. Em termos de partilha das soluções é muito importante termos embalagens que são utilizadas por diferentes utilizadores ou marcas, evitando que cada um tenha a sua. Tudo isto contribui para uma maior eficiência de todo o sistema", esclarece, frisando também a importância da durabilidade dos produtos reutilizáveis e que podem ser "reutilizados múltiplas vezes".

Segundo a associação Zero, Portugal está "bem posicionado" no que à reutilização diz respeito. Susana Fonseca enumera algumas das metas:

"Até 2030 ter 30% das embalagens usadas em Portugal a serem reutilizáveis. Este ano é um ano bastante importante porque a indústria retalhista e o setor da restauração têm de apresentar uma proposta de metas de reutilização para embalagens de bebidas para entrar em vigor em 2023. A obrigatoriedade de, nos supermercados, sempre que uma bebida é vendida em embalagem descartável, se ela existir no mercado também em reutilizável, tem que ser disponibilizada, ao passo que nos restaurantes o que a lei indica é que têm que ser utilizadas sempre por defeito as embalagens reutilizáveis e só depois as descartáveis."

A especialista destaca ainda outro aspeto: "A partir de 2024, na área do takeaway, termos a obrigação de oferta de soluções reutilizáveis ao consumidor para conjugar com o direito que os consumidores já têm de levar os seus próprios recipientes e ter também, do outro lado da restauração, uma solução de reutilização."

Julho, um mês sem plásticos

Este mês, assinala-se o "Julho Sem Plásticos", "um movimento global, que teve origem em 2011, na Austrália, e que envolve milhões de pessoas desde então em todo o mundo em ações que têm em vista reduzir a presença dos plásticos descartáveis no ambiente, seja nas ruas, nos jardins, nas áreas naturais, nos oceanos".

Susana Fonseca explica que esta iniciativa decorre durante todo o mês de julho. "Não tem de ser nenhum dia específico e pode ir desde eventos de sensibilização, uma visualização de um documentário, ações de limpeza ou outro tipo de intervenções nas redes sociais."

No caso da associação ambientalista Zero, há uma campanha a decorrer nas redes sociais em que "a cada dia damos um conselho sobre como é que as pessoas podem reduzir a produção de resíduos, não apenas de plástico, mas de outros resíduos também".

Numa altura em que as previsões apontam para um "cenário quase catastrófico" no que toca ao aumento do uso de plásticos descartáveis, "aquilo que nós sentimos é que é cada vez mais importante refletirmos como é que podemos alterar este paradigma e tentar desenvolver cada vez mais uma abordagem que aponte para a redução e reutilização".

A especialista considera que a Zero, enquanto associação ambientalista, "aproveita sempre estas ocasiões não apenas para falar do plástico, mas sim para falar dos descartáveis, porque também não defendemos a substituição do plástico descartável por outro tipo de materiais, portanto é mesmo um momento importante para nós conseguirmos coletivamente começar a construir as soluções que levem a uma redução e reutilização, criar uma nova abordagem, um novo paradigma".

"É que não podemos esquecer que Portugal estabeleceu, entre 2012 e 2020, o objetivo de chegar a 2020 a produzir, em termos de quantidade de resíduos anual per capita, 410 quilos e em 2019 estávamos a produzir 513. Ou seja, 103 acima daquilo que nós tínhamos previsto nos nossos planos estratégicos. Temos que trabalhar de forma muito significativa, alterar este paradigma para conseguirmos também atingir estes objetivos que são importantes do ponto de vista da sustentabilidade", reforça.

Reutilização: o que falta para ser uma realidade?

Susana Fonseca defende que ainda há muito trabalho a fazer para que a mudança da reutilização seja implementada e, por isso, considera importante "estabelecer um limite à quantidade de embalagens descartáveis".

Há algumas metas que já são aplicadas, mas há outras relevantes e que deveriam ser tidas em conta. "Em alguns setores na área da disponibilização de refeições prontas existe a obrigação, mas não existe uma meta a cumprir. Ou no caso de outra área, que aumentou muitíssimo nos últimos anos, que é o envio de encomendas. Há projetos muito interessantes a serem aplicados noutros países, sabemos que em Portugal também estão a ser estudadas estas soluções de termos embalagens para envio de encomendas que são reutilizáveis. Deve ser estimulado por via de políticas públicas", diz a especialista.

"E também incentivos económicos. Não podemos esquecer que, para fomentar estas soluções reutilizáveis, é importante, por um lado, ter as leis que definem o caminho, mas depois ter os incentivos certos, taxar o que deve ser taxado e, por outro lado, ajudar e incentivar as boas práticas em termos de reutilização. É um caminho ainda longo que temos que percorrer para lá chegar", sustenta.

Como aplicar a reutilização no dia a dia?

Recentemente, começou a ser cobrado aos consumidores os sacos de plástico e muitas pessoas começaram a utilizar sacos de pano. Mas será que estes tipos de sacos são mais sustentáveis?

"Os sacos reutilizáveis têm o mesmo fator de sucesso para serem mais ecológicos como as outras soluções. Uma solução que é para reutilizar é mesmo para reutilizar, não é para usar uma, duas, três vezes ou até 10. Os sacos de pano, que são aqueles que os estudos indicam ter a pegada mais significativa, são sacos que duram anos. É isso que um produto reutilizável deve ser, ou seja, reutilizado. E às vezes o que acontece não é bem isso, é que as pessoas acabam por usar poucas vezes, às vezes até as próprias marcas referem que o produto é reutilizável, mas ele não é, no sentido que só permite uma, duas, três utilizações", afirma Susana Fonseca, dando o exemplo dos festivais de música em que "em vez de se reutilizar os copos que são disponibilizados em diferentes festivais, cada festival tem o seu copo".

"Essas não são as situações sustentáveis do ponto de vista da reutilização. Um produto reutilizável é para ser reutilizado o maior número de vezes possível", vinca.

A especialista deixa, por isso, algumas dicas para que a reutilização seja aplicada diariamente: "O conselho mais óbvio que podemos dar, e até porque já está previsto na legislação, é levarem os seus próprios recipientes e sacos quando vão às compras. É muito fácil fazer sacos em casa com roupas velhas, por exemplo. Também quando vão a um 'pronto a comer', e agora ainda mais porque entrou em vigor a taxa sobre as embalagens de plástico, devem levar as suas próprias embalagens para trazer as refeições. E, sempre que considerem que é viável a utilização de uma solução reutilizável, mas ela não esteja disponível, perguntar porque é que não está disponível, porque também é importante que do outro lado sintam que há uma procura destas soluções mais sustentáveis."

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