Verdes Hábitos

Agir é preciso! As mudanças de hábitos em tempos de emergência climática. As grandes questões, os desafios, os problemas relacionados com a sustentabilidade e o ambiente. "Verdes Hábitos" na TSF com Carolina Quaresma e a Associação Ambientalista Zero. Às segundas-feiras depois das 16h40 e sempre em tsf.pt.
(Até 2021 o programa foi da autoria de Sara Beatriz Monteiro e Inês André de Figueiredo).

Recolha seletiva e compostagem: quais os caminhos para os biorresíduos?

Os biorresíduos estão por todo o lado, nomeadamente, nas sobras das refeições, como cascas de legumes, folhas de verduras, ossos, espinhas ou até guardanapos. No Verdes Hábitos desta semana, Susana Fonseca, da associação ambientalista Zero, explica que uma das melhores formas para "completar o ciclo" destes resíduos é através da compostagem. "Se uma família de quatro pessoas tiver um compostor doméstico, pode reciclar localmente cerca de 430 quilos de resíduos orgânicos por ano, reduzindo o que é enviado para aterro em cerca de 30%", exemplifica.

Em Portugal, os biorresíduos representam, em média, 37% do lixo comum ou indiferenciado, estando presentes em quase todo o lado, desde jardins, restaurantes ou até escritórios. Susana Fonseca, da associação ambientalista Zero, afirma que os biorresíduos são "a fração de resíduos que produzimos em maior quantidade".

"Estima-se que cada português produza em casa diariamente cerca de 1,4 quilos de resíduos no total, e, desses, quase 37% são biorresíduos. São quase 200 quilos por ano só deste tipo de resíduos. Os biorresíduos são aqueles resíduos que resultam da preparação de refeição, como cascas de legumes, folhas das verduras, sobras das refeições, ossos ou espinhas, resíduos da manutenção de hortas e jardins, e tudo o que é de papel, como guardanapos", explica.

Susana Fonseca esclarece que a "grande diferença" entre os biorresíduos e o lixo indiferenciado é que os biorresíduos são "uma fração muito significativa" que pode ser "facilmente reciclada".

"Podemos evitar que muitos resíduos sejam encaminhados para aterro e incineração quando separamos estes biorresíduos. No lixo indiferenciado ficam os outros resíduos, para os quais ainda não temos soluções e que ainda representam uma quantidade significativa, mas se tirarmos todas as embalagens e separarmos os biorresíduos, vemos que nesses outros resíduos, os tais indiferenciados, ficarão resíduos mais inertes. É normalmente dos biorresíduos que resultam os maus cheiros", refere.

Aposta na compostagem para evitar desperdício

A especialista sublinha que a forma mais comum para reciclar os biorresíduos é a compostagem, quer seja doméstica, comunitária ou industrial, ou por digestão anaeróbia, isto é, "possibilidade de aproveitamento energético". "Como há formação de biogás, há o aproveitamento desse gás para se poder produzir energia que é depois injetada na rede."

A recolha seletiva dos biorresíduos tem também uma ligação com o desperdício alimentar: "Quando começamos a separar, começamos a ter maior consciência do que estamos a colocar naquele contentor dos biorresíduos, pode ter um efeito de sensibilização e de alerta para alguns desperdícios. É um contributo positivo do ponto de vista da redução do desperdício alimentar, porque, ao aproveitarmos os biorresíduos, podemos retirar grandes benefícios: produzir composto e originar material rico em nutrientes, evitar o uso de fertilizantes químicos, melhorar a quantidade de matéria orgânica no solo, retenção da humidade e reduzir a quantidade de resíduos que vão parar a aterro ou são incinerados."

Susana Fonseca exemplifica: "Se uma família de quatro pessoas tiver um compostor doméstico, pode reciclar localmente cerca de 430 quilos de resíduos orgânicos por ano, reduzindo o que é enviado para aterro em cerca de 30%."

A reciclagem dos biorresíduos acaba por ser "o completar do ciclo". "Quando fazemos compostagem estamos a devolver ao solo uma parte dos nutrientes que foram retirados quando a fruta foi produzida ou quando o animal foi criado."

Sendo Portugal um país com solos "tendencialmente pobres", "é fundamental conseguirmos canalizar este recurso para o sítio certo e não estar a depositá-los em aterro, onde só causam problemas, ou ter que os incinerar".

Pelo contrário, caso estes resíduos orgânicos não sejam devidamente reciclados, grande parte é "encaminhado para aterro", onde causam problema, como águas lixiviantes ou emissões de metano.

Recolha seletiva: o que diz a diretiva da União Europeia?

Em 2018, foi aprovada uma diretiva na União Europeia que visa, precisamente, a gestão dos biorresíduos. Susana Fonseca explica que, segundo esta diretiva, os países têm até ao final de 2023 para "garantir a recolha seletiva de biorresíduos".

"A nossa preocupação enquanto ONG é que é fundamental conseguirmos implementar no terreno um sistema eficaz, que permita esta recolha, porque a recolha seletiva desta fração é importante para garantir a sua qualidade", sustenta.

Mas em que consiste este recolha seletiva? "É termos um contentor específico nas nossas casas, cantinas ou restaurantes, para onde colocamos todos os resíduos orgânicos - como fazemos para as embalagens. Temos que separar seletivamente, não misturar, com os resíduos indiferenciados para garantir a qualidade desses biorresíduos, para que ele depois possa ter quase que um circuito específico", responde Susana Fonseca.

"O que defendemos é que esta recolha deva ser feita com grande proximidade e com regularidade, uma recolha porta a porta. Infelizmente o que vemos é que nem todos os municípios em Portugal estão a pensar nesse sistema, mas sim num ecoponto de biorresíduos, algo que nós consideramos que não é o sistema mais eficaz. Precisamos de um sistema que garanta que estes resíduos seguem um percurso limpo, são recolhidos e tratados de forma separada dos restantes resíduos. Embora não haja meta específica, o que se diz é que os países têm que assegurar esta recolha seletiva, mas há outras metas, nomeadamente, as metas globais de reciclagem de resíduos urbanos que são muito exigentes: já para 2025 temos que reciclar 55% dos resíduos urbanos e, em 2035, 65%. Nunca conseguiremos cumprir estas metas se não conseguirmos separar de forma muito significativa. É mesmo fundamental uma aposta séria numa recolha eficaz. Defendemos a recolha porta a porta para garantir que Portugal cumpre as metas, mas, mais do que isso, que aproveita um recurso fundamental para a nossa economia", sublinha a especialista.

Por agora, Portugal ainda está na fase de implementação deste sistema de recolha seletiva, mas Susana Fonseca diz que "não estamos a ir nos sentido que gostaríamos". Isto porque muitos dos municípios "não estão a ponderar fazer uma recolha de grande proximidade e, do nosso ponto de vista, se os ecopontos não funcionam bem para as embalagens, dificilmente funcionarão para um resíduo com estas características". "Por isso defendemos que é muito importante que Portugal faça uma aposta séria numa recolha de grande proximidade para garantir esta separação seletiva dos biorresíduos."

Evitar o desperdício: como reciclar os biorresíduos no dia a dia?

Susana Fonseca dá algumas sugestões para que os cidadãos consigam contribuir para a reciclagem destes resíduos orgânicos. "Quem puder, o ideal é a compostagem doméstica ou comunitária. Tratar o resíduo no local é sempre melhor do que estarmos a ter um sistema montado de recolha para tratamento conjunto."

"Se esta não é uma possibilidade, então deve tentar colaborar, logo que possível, ou até mesmo pressionar o seu município no sentido em que seja implementado um sistema de recolha seletiva de biorresíduos. Colaborar nesse sistema de forma construtiva, porque é importante para o país que possamos aproveitar este recurso", aconselha.

Pode ainda consultar mais informações sobre como fazer compostagem aqui.

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