Verdes Hábitos

Agir é preciso! As mudanças de hábitos em tempos de emergência climática. As grandes questões, os desafios, os problemas relacionados com a sustentabilidade e o ambiente. "Verdes Hábitos" na TSF com Carolina Quaresma e a Associação Ambientalista Zero. Às segundas-feiras depois das 16h40 e sempre em tsf.pt.
(Até 2021 o programa foi da autoria de Sara Beatriz Monteiro e Inês André de Figueiredo).

Serão os veículos híbridos plug-in tão sustentáveis como se pensa?

Os automóveis híbridos plug-in emitem mais dióxido de carbono do que aquilo que é divulgado pelas marcas, contribuindo para uma maior poluição. No Verdes Hábitos desta semana, Francisco Ferreira, da associação ambientalista Zero, considera essa situação "preocupante", uma vez que, além dos impactos ambientais, os híbridos plug-in acabam por sair mais caro aos condutores do que os 100% elétricos.

Na teoria, podem ser considerados amigos do ambiente, mas, na prática, os automóveis híbridos plug-in estão longe de ser uma alternativa sustentável em comparação com os veículos a combustão. É essa a conclusão de um estudo da Federação Europeia de Transportes e Ambiente, da qual a associação ambientalista Zero faz parte. Mas, afinal, porque é que os automóveis híbridos plug-in não são assim tão sustentáveis como aparentam? No Verdes Hábitos desta semana, Francisco Ferreira, presidente da Zero, responde a esta questão.

"Um veículo híbrido plug-in é um automóvel que tem um motor de combustão, mas também tem um motor elétrico, que é alimentado por uma bateria já com alguma capacidade, ou seja, não se trata de um híbrido normal. Enquanto num apenas híbrido não temos possibilidade de carregar a bateria à corrente elétrica, num plug-in nós podemos e devemos fazê-lo sendo que, no entanto, essa bateria é muito mais curta em termos de capacidade por comparação a um veículo 100% elétrico, onde as autonomias têm que ser muito maiores", começa por explicar Francisco Ferreira.

"Num híbrido plug-in tenho autonomias que rondarão os 50 quilómetros e o resto terei que usar o motor a combustão, enquanto num 100% elétrico terei autonomias de 200, 300, 400 quilómetros, mas aí, se a bateria se esgotar, eu não tenho alternativa, enquanto num híbrido plug-in eu posso sempre utilizar a maior parte da autonomia que é assegurada pelo motor de combustão. Vale a pena ainda notar que o facto de ter um motor elétrico e um motor de combustão e ainda uma bateria que é maior do que a de um híbrido simples, o peso deste veículo é maior do que um híbrido normal, não plug-in, ou maior do que um veículo que tenha apenas motor de combustão", sublinha.

Mais emissões do que os valores oficiais? Situação é "preocupante"

Segundo o novo estudo da Federação Europeia de Transportes e Ambiente, "quando comparamos um 100% elétrico e um híbrido plug-in e olhamos para as suas características, aquilo que vemos anunciado é o que se passa nos primeiros 100 quilómetros".

"Admitindo que eu tenho o carro com a bateria cheia e vou fazer esses primeiros cem quilómetros, eu vou utilizar a bateria até ela se gastar e depois vou passar para o motor de combustão. O que se verificou e é apresentado neste estudo é que, mesmo assim, nestes primeiros 100 quilómetros a autonomia da bateria ficou aquém do anunciado. Em vários modelos verificou-se que eu tenho uma bateria que é 26% ou até ainda mais inferior àquilo que é anunciado. Se eu continuar a andar com o carro com a bateria descarregada, eles acabam por emitir cinco a sete vezes mais dióxido de carbono, mais poluição por estarem a usar a gasolina ou gasóleo do que os valores oficiais e isso é preocupante", considera o presidente da Zero.

Questionado sobre se se trata de um truque publicitário, Francisco Ferreira refere que "as regras estão mal definidas e os testes continuam a ter deficiências na avaliação".

"Os híbridos plug-in conseguem fugir destas regras ao se considerar apenas os primeiros 100 quilómetros em que faço as contas e não uma condução abrangendo o total do depósito ou uma deslocação em que eu só vou realmente usar o potencial de uma bateria um pouco maior nas primeiras dezenas de quilómetros. Desse ponto de vista é enganador, mas são essas as regras europeias e depois os testes que dizem qual é o consumo aos 100 quilómetros e qual é a autonomia estão a falhar em relação àquilo que depois que se verifica na realidade", sublinha.

Impactos ambientais e económicos

Além da poluição, os veículos híbridos plug-in saem mais caro do que os 100% elétricos.

"A comparação que nós fazemos entre os híbridos plug-in e os 100% elétricos é que sai mais barato comprar veículos 100% elétricos. Essas diferenças ainda acabam por ser relativamente significativas, em alguns casos estamos a falar de 2500 ou 5000 euros", defende, afirmando que uma das "desculpas" que às vezes é apresentada é "ah, mas eu às vezes preciso mesmo de fazer percursos maiores e, por isso, preciso de um híbrido plug-in" ou "não, eu tenho um híbrido plug-in, mas a maior parte das vezes eu faço percurso inferiores a 40 quilómetros e só uso a bateria".

"No primeiro caso, já há muitos postos de carregamento que nos dão uma segurança cada vez maior para utilizarmos veículos 100% elétricos e com custos mais reduzidos do que recorrermos ao consumo do gasóleo e da gasolina, além das emissões mais baixas e, no segundo caso, se eu só faço 30 ou 40 quilómetros no dia a dia, aí valia a pena comprar um veículo elétrico. Muitos destes modelos híbridos plug-in são carros maiores e as marcas automóveis utilizam este esquema para conseguirem contabilizar menos emissões do que efetivamente os veículos acabam por ter", explica.

Em 2021, em Portugal, havia uma "predominância" dos veículos híbridos plug-in. No entanto, em 2022, "apesar de não ser uma diferença muito significativa, essa situação já se alterou".

"Do total de vendas de automóveis tivemos 11,4% dos ligeiros de passageiros a serem vendidos como 100% elétricos e 10,3% como híbridos plug-in, ou seja, os 100% elétricos estão agora à frente das vendas dos híbridos plug-in, e, em nosso entender, é isso que faz sentido no futuro. Não nos esqueçamos que, a partir de 2035, estes híbridos plug-in não poderão ser vendidos como novos e o investimento deve ser naqueles movidos exclusivamente a motor elétrico", relembra.

Híbridos plug-in com "benefício exagerado" por parte do Estado

Para Francisco Ferreira, os veículos híbridos plug-in estão a ter "um benefício exagerado, do ponto de vista de muitos milhões de euros que não estão a ser captados pelo Estado, ou seja, o Estado está a subsidiar estes veículos, quer para empresas, quer para os particulares".

Os híbridos plug-in têm um desconto de 75% no imposto sobre veículos, desde que tenham uma autonomia mínima oficial de 50 quilómetros e emissões inferiores a 50 gramas de CO2 por quilómetro, algo que, na prática, "não se verifica".

"Em nosso entender, o Estado não deveria estar a dar este bónus no imposto sobre veículos, aquando da compra. O mesmo se passa no caso das empresas na tributação autónoma, onde houve um desagravamento fiscal na ordem dos 2,5% desde que aqueles critérios sejam respeitados. De acordo com o custo, tenho uma tributação autónoma que é apenas de 2,5% quando o custo é inferior a 27.500 euros sem IVA, depois passa para 7,5%, até 35.000 euros, e para 15% quando está acima de 35.000 euros. Para nós, não faz sentido este apoio tão significativo e diferente em relação aos 100% elétricos. A diferença deveria ser maior, estimulando os 100% elétricos", sustenta.

Quais as opções mais sustentáveis?

Para uma mobilidade mais amiga do ambiente, Francisco Ferreira sugere investir em veículos 100% elétricos em vez de híbridos plug-in.

Contudo, "quem já tenha um híbrido plug-in, deve procurar cumprir tanto quanto possível a regra de carregar a bateria e fazer o máximo de utilização do motor elétrico e não conduzi-lo com a bateria vazia, porque aí as emissões são muitíssimo maiores".

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