Verdes Hábitos

Agir é preciso! As mudanças de hábitos em tempos de emergência climática. As grandes questões, os desafios, os problemas relacionados com a sustentabilidade e o ambiente. "Verdes Hábitos" na TSF com Carolina Quaresma e a Associação Ambientalista Zero. Às segundas-feiras depois das 16h40 e sempre em tsf.pt.
(Até 2021 o programa foi da autoria de Sara Beatriz Monteiro e Inês André de Figueiredo).

Uma questão de género? O papel da mulher na luta contra as alterações climáticas

Estudos apontam que as mulheres têm "uma maior abertura" para os valores da sustentabilidade do que os homens, mas são também elas que são mais afetadas pelas alterações climáticas. No Verdes Hábitos desta semana, assinalamos o Dia da Mulher, que se comemora a 8 de março. Para Susana Fonseca, da associação ambientalista Zero, "é cada vez mais importante que a igualdade de género seja uma realidade em diferentes dimensões", principalmente, no que diz respeito ao plano ambiental.

Março é conhecido por ser o mês da Mulher, com o Dia da Mulher a ser celebrado no dia 8. Segundo as Nações Unidas, a desigualdade de género, aliada à crise climática e ambiental, é um dos maiores desafios atuais em todo o mundo. Susana Fonseca, da associação ambientalista Zero, explica que os homens e as mulheres contribuem "de forma diferente" em termos ambientais e de emissões de carbono.

"As diferenças têm a ver com as escolhas que fazem em termos de carreira, as diferentes necessidade de mobilidade e de energia, os padrões de consumo que se assumem e a questão dos valores. As mulheres têm uma maior abertura para os valores da sustentabilidade e todos estes fatores acabam por influenciar a pegada ambiental. O que os estudos apontam é que os homens têm tendência a ter mais emissões de dióxido de carbono do que as mulheres e isso tem muito a ver com um maior consumo de combustíveis e de carne, que é mais marcado entre os homens do que entre as mulheres", considera Susana Fonseca, sublinhando que "o que os estudos demonstram é uma maior apetência das mulheres pelos valores da sustentabilidade".

"É cada vez mais importante que a igualdade de género seja uma realidade em diferentes dimensões, para que as mulheres não se vejam tão sobrecarregadas. Se houver uma maior distribuição das tarefas, mais equitativa e equilibrada, conseguiremos todos avançar para uma sociedade mais sustentável, sem grandes pressões em termos de género", defende.

Como as mulheres estão mais expostas às alterações climáticas

A forma como as alterações climáticas afetam homens e mulheres acaba por ser "mais marcada" nos países em desenvolvimento.

"De qualquer modo, a nível mundial, as mulheres têm um papel fundamental para garantir o acesso a alimentos, a água, ao combustível, e são também, muitas vezes, as principais responsáveis pelo trabalho na agricultura. Tudo o que é fenómenos extremos (secas, cheias e tempestades) acaba por criar pressões muito significativas que recaem sobre a mulher de forma desproporcional. Muitas vezes é-lhes negado o acesso à educação para garantirem estes serviços que as famílias necessitam", afirma a especialista, alertando para um "outro risco" também associado às alterações climáticas: "o escalar de tensões sociais, políticas e económicas em determinadas zonas que possam estar a sofrer de forma mais significativa aos fenómenos extremos." "Sabemos que, quando há conflitos e violência, as mulheres são das principais vítimas."

Além disso, as alterações climáticas colocam os sistemas de saúde "sob pressão", o que pode dificultar, por exemplo, o apoio à natalidade e à infância.

Susana Fonseca fala ainda de outras diferenças que evidenciam a desigualdade de género no plano ambiental: "Em muitas comunidades, as normas sociais e a carga excessiva das tarefas que são atribuídas às mulheres tendem a reduzir as suas possibilidades de participação."

"O que acaba por acontecer é que as decisões são tomadas sem que a voz das mulheres seja ouvida. É fundamental garantir que as mulheres conseguem e podem participar nestas decisões locais, que sejam ouvidas e integradas neste processo de decisão, o que acaba por não acontecer, porque as tais tarefas domésticas e quotidianas acabam por retirar esse espaço de participação", sublinha.

A igualdade de género e o Pacto Ecológico Europeu

Ao nível ambiental, o Pacto Ecológico Europeu, quando foi aprovado, em 2019, "era omisso em termos das questões de género". "Depois, em 2020, com a adoção da estratégia para a igualdade de género, por parte da Comissão Europeia, houve um compromisso da própria Comissão Europeia de cada vez mais integrar esta perspetiva na definição de políticas e de estratégias, mas o facto é que, às vezes, resulta melhor numas situações do que noutras."

Susana Fonseca destaca a estratégia para a sustentabilidade dos produtos químicos, em que a questão de género "está mais marcada, até porque as mulheres estão a ser mais afetadas pela presença de químicos no quotidiano". Por outro lado, na estratégia da mobilidade sustentável ou no fundo social para o clima "já não há uma integração tão sistemática das questões de género".

"É um caminho que tem que ser feito, estamos todos a aprender, mas, no seu âmago, o Pacto Ecológico Europeu, que é o grande documento enquadrador da política na área do ambiente na UE, não incluía essa preocupação na base, foram dados alguns dados mas falta muito trabalho para conseguirmos chegar a políticas que espelham estas diferentes perspetivas", sustenta.

Em Portugal, "não estamos muito diferente dos que se passa na União Europeia". "É um facto que temos uma 'obrigação' de avaliar o impacto de propostas legislativas nas questões de género, mas de uma forma mais transversal, e, pensando na área do ambiente, não vemos ainda isso expresso nos documentos que vêm a público e que são aprovados."

O que é preciso para uma maior igualdade de género na gestão do ambiente?

Segundo a associação ambientalista Zero, para uma maior igualdade de género, as políticas e a gestão do ambiente deveriam "integrar as diferentes visões". "O que temos em termos de decisões nas diferentes áreas é uma visão que acaba por ser muito masculina. Conseguirmos ter uma perspetiva mais aberta e garantir que as mulheres, na sua diversidade, podem participar mais é muito importante."

Susana Fonseca dá o exemplo do setor da mobilidade, onde "os homens tendem a usar mais o carro do que as mulheres". "Sempre que definimos políticas ou medidas que ajudam à utilização do automóvel individual, estamos a privilegiar um lado da sociedade em detrimento de outro. Se tivermos mais mulheres no processo de decisão e pessoas que utilizam mais o transporte público, vamos começar a ter decisões diferentes porque há necessidades que vão ser integradas que vão ser diferentes."

O mesmo acontece na agricultura: "Temos os apoios a uma agricultura de grande dimensão quando, muitas vezes, o papel das mulheres acaba por ser numa agricultura de menor dimensão, mais integrada na comunidade."

Dia da Mulher 2023: os objetivos das Nações Unidas

"Por um mundo digital inclusivo: inovação e tecnologia para a igualdade de género." É este o tema das Nações Unidas para o Dia da Mulher. Para Susana Fonseca, a escolha deste tema pelas Nações Unidas reflete o "reconhecimento da importância do digital para o futuro do mundo e das mulheres".

Como objetivos principais, as Nações Unidas pretendem "reduzir a diferença de género no acesso às soluções digitais, garantir uma maior representatividade das mulheres no setor da tecnologia e criar uma tecnologia com um objetivo comum e em pleno respeito pelos direitos humanos".

"A violência de género é facilitada pela tecnologia e as mulheres acabam por estar mais expostas a formas de pressão muito negativas. É fundamental fomentar a empatia e a ética digital", refere Susana Fonseca.

Como contribuir para um mundo mais "inclusivo" para todos?

Para um mundo mais "inclusivo e sustentável", a especialista da Zero recomenda "perceber os impactos que as nossas decisões podem ter noutras pessoas, seja de que grupo social forem".

"Temos cada vez mais de estar abertos e escutar as necessidades de outras pessoas e procurar soluções conjuntas e que sirvam todos. Também fazer pressão sobre os nossos decisores políticos para que, cada vez mais, garantam o acesso das mulheres aos processos de decisão e a integração destas perspetivas diferentes", conclui.

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