Ex-diretor do CERN considera que Acordo de Paris não chega

Chris Llewellyn Smith, mostra-se muito cético quanto ao Acordo de Paris sobre as alterações climáticas.

A jornalista Liliana Costa entrevistou o físico britânico.

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O antigo diretor-geral do CERN e atual responsável pelo Departamento de Pesquisa Energética da Universidade de Oxford, passou pelo Fórum do Futuro que terminou ontem no Porto, e considera que o acordo que compromete os países mais poluidores é um bom princípio, mas não chega para salvar o planeta.

"Os governos de todo o Mundo já acreditam nas alterações climáticas e estão empenhados em fazer algo. Podem perguntar como chegaram a acordo agora se antes não o tinham conseguido? E a razão é porque o fizeram de forma voluntária. Isso é bom mas é também a maior fraqueza deste acordo. Os Governos aceitaram limitar a subida da temperatura a 2 graus e tentar que não ultrapasse 1,5. Não são os compromissos que precisávamos mas já é alguma coisa", disse.

Escutado pela TSF na conferência do Porto, Chris Llewellyn Smith assumiu-se, não como um pessimista, antes como um "otimista informado que não desiste". Lembra que sempre que se tentou impor limites à emissão de gazes poluentes, a comunidade internacional, particularmente os países mais poluidores, não foi capaz de se entender.

"Esse é o grande problema, não haver penalizações. Agora o compromisso é voluntário. Portanto os países só vão oferecer aquilo que conseguem cumprir. A única pressão é da vergonha porque se os chineses conseguirem cumprir, os americanos também vão querer, e os europeus. É essa a fraqueza. No dia em que o acordo foi assinado, Ban Ki Moon disse que era um dos dias mais importantes na história do Planeta e que tinha sido salva a civilização... acho que foi um pouco prematuro".

Além de insuficiente, acrescenta Chris Smith, o acordo de Paris é inconsistente, porque não aponta um caminho. "Eu ficaria relutante em assinar um documento em que assumo que vou fazer tudo para reduzir a subida da temperatura em grau e meio porque não saberia como fazê-lo. Podem escrevê-lo num papel mas não me parece muito realista. Talvez seja bom que tenham escrito estes objetivos ambiciosos mas como é que se definem estas metas se elas podem não ser alcançáveis? Não sei... Penso que eles estão muito concentrados na ideia de que a energia eólica é mais barata do que o gás. Em parte é verdade mas se isso bastasse o problema estaria resolvido", acrescentou.

O físico britânico tem-se destacado pela investigação e desenvolvimento de novas formas de energia, nomeadamente a energia de fusão nuclear.

"Na fusão nós imitamos o que se passa no interior das estrelas. Pegámos em partículas de hidrogénio, aquecemo-las a altas temperaturas para as obrigar a fundirem-se e assim produzir hélio, que liberta uma quantidade imensa de energia. No papel é uma fonte maravilhosa de energia. O combustível é ilimitado. Podemos usá-lo por milhões de anos, talvez sete milhões. Além disso há um pequeníssimo rasto de radiatividade, é limpo, parece maravilhoso. O problema é que é muito difícil de fazer", explicou.

Além de difícil, pode não ser competitivo com outras fontes de energia, como a solar e a eólica. E é por causa do custo da competitividade, que tornam os combustíveis fósseis ainda tão atraentes, que Chris Smith estima que o caminho para um futuro sustentável vai ser mais lento do que o desejável.

Francisco Ferreira diz que não partilha do pessimismo de Chris Lewellyn.

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O presidente da associação ambientalista Zero, Francisco Ferreira, não partilha das reservas de Chris Smith e assinala grandes progressos no esforço mundial para travar as alterações climáticas. "O acordo de Paris tem limitações por não ter um quadro penalizador para os países que não conseguirem atingir as metas, mas mais do que uma meta este acordo de Paris é um processo. E essa é a grande diferença em relação a Quioto", comentou.

O ambientalista acrescenta que o compromisso "tem a enorme vantagem de estipular um mecanismo de revisão de metas de 5 em 5 anos. E é à custa desse esforço cada vez mais apertado que vamos conseguir aproximarmo-nos do objetivo".

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