Tirar o fato e a gravata chega para salvar o planeta? Não, mas ajuda

A compra de ares condicionados cresce de ano para ano e surgem medidas para diminuir o gasto energético destes aparelhos. Umas são mais criativas do que outras, mas os dados não mentem: todas são urgentes.

Se há tema que gera discussões no local de trabalho é a temperatura do ar condicionado. Há sempre o colega friorento e o vizinho de secretária que parece viver num clima tropical. Divergências à parte, os sistemas de climatização - cada vez mais procurados a nível mundial - têm um impacto significativo no consumo de energia e nas emissões de dióxido de carbono.

As previsões são alarmantes: em 2050, os aparelhos de ar condicionado vão exigir uma capacidade energética três vezes superior à atual, de acordo com um relatório recente da Agência Internacional de Energia (AIE). O stock global destes aparelhos vai disparar de tal forma que nos próximos trinta anos vão ser vendidos dez ares condicionados por segundo.

Foi neste sentido que o Governo de Macau decidiu avançar com uma campanha de sensibilização que desincentiva o uso da gravata e do casaco no local de trabalho e apela a que as temperaturas do ar condicionado não estejam abaixo dos 25º celsius de forma a poupar energia.

A medida não é uma novidade na Ásia - um continente com verões quentes e húmidos - onde os trabalhadores de países como o Japão são incentivados a deixar em casa o casaco e a gravata.

Recorde que também em Portugal já existiu, embora em menor escala, uma iniciativa parecida. Em 2011, em pleno resgate financeiro do país, Assunção Cristas - na altura, ministra do Ambiente - criou a iniciativa "Ar Cool", dispensando o uso de gravatas em todos os edifícios do ministério que dirigia, para que fosse possível poupar no ar condicionado.

A campanha do Governo de Macau que termina esta sexta-feira - e que resulta de uma série de medidas discutidas na Semana da Conservação Energética de Macau 2018 - é vista pelo presidente da associação ambientalista ZERO como um bom exemplo para Portugal, apesar de Francisco Ferreira sublinhar que a escolha de indumentária mais leve não chega para melhorar a eficiência energética nos edifícios.

"Este é um alerta para climas quentes e húmidos como o de Macau, mas é também algo que é absolutamente indispensável ser discutido e implementado em Portugal, dependendo das regiões. Isto não é apenas para os casos do calor, mas também para o tempo frio. As medidas devem ser, acima de tudo, estruturais."

Francisco Ferreira defende que o investimento na reabilitação dos edifícios devia ser a prioridade, nomeadamente através da colocação de" janelas duplas, do cuidado com a orientação da casa, dos materiais de construção utilizados", mas o ambientalista acredita que muitas vezes se opta pela " solução mais fácil - e, aliás, bastante cara - que é adquirimos o ar condicionado e depois, obviamente, pô-lo a funcionar."

Quanto ao uso do ar condicionado, o presidente da ZERO defende que os aparelhos devem ser "uma solução de último recurso" e utilizados da forma mais eficiente possível: "Nos casos em que usamos ar condicionado devemos ter o máximo de cuidado para regularmos a temperatura e para o pormos a funcionar do modo mais eficiente e, portanto, proporcionando os menores consumos."

A visão do ambientalista vai ao encontro das declarações do presidente executivo da Agência Internacional de Energia. Fatih Birol assegura que "estabelecer padrões mais altos de eficiência para o arrefecimento é uma das medidas mais simples que os governos podem tomar para, ao mesmo tempo, reduzir a necessidade de novas centrais elétricas, reduzir as emissões e reduzir os custos."

Outras soluções podem passar, na opinião de Francisco Ferreira, pela criação de "incentivos em sede de IRS e em sede de IRC, e não apenas empréstimos bancários como atualmente sucede," para quem implementar práticas energeticamente eficientes e amigas do ambiente.

Apesar de Portugal ter batido recordes na produção de eletricidade através de fontes renováveis, Francisco Ferreira defende que ainda há uma importante luta a travar para que essa energia seja utilizada da melhor forma.

"A batalha da eficiência energética é tão ou mais importante do que os investimentos nas energias renováveis e, infelizmente, o caminho está a ser muito mais lento e difícil de percorrer do que em termos de aproveitamento das fontes renováveis", rematou.

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