O mestre Analide do Carmo bate a cataplana em cobre que está por acabar. Um trabalho de perfeição a que nem todos conseguem chegar. "Aperfeiçoar a peça é o segredo disto. E até chegar aí leva uns quantos anos". Analide levou 16 anos até chegar a Mestre Caldeireiro.
Reportagem de Maria Augusta Casaca
Começou a trabalhar no ofício aos 12 anos. Passados 16, deixou-se de uma vida que lhe dava pouco dinheiro e foi para funcionário de uma empresa cimenteira.
Agora, já depois de reformado, aceitou o desafio da câmara Municipal de Loulé: ensinar alguns aprendizes de modo a não deixar morrer o ofício. Porque caldeireiros já é raro encontrar.
"Os que eu conhecia já faleceram todos, há alguns que podem estar vivos mas a trabalhar já não há ninguém, nem a fazer nada à mão", diz.
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Joaquim Mealha, da Câmara Municipal de Loulé lembra que a formação de novos caldeireiros foi suportada pela câmara que também disponibiliza o espaço, uma antiga oficina.
"A câmara adquiriu o edifício e as ferramentas e eles (artesãos) asseguram o funcionamento, produzem as peças por sua conta e comercializam", adianta.
É possível assim conhecer antigos saberes e artes que estavam a desaparecer. Não é o caso da empreita, uma arte que ainda tem alguns seguidores. Numa rua na zona antiga da cidade de Loulé ,há a "Casa da Empreita", um local dinamizado também pela autarquia onde outros artesãos lançam mão a esta forma de entrelaçar a palma.
Sónia Mendez aprendeu a fazer empreita aos 8 anos. Explica que a empreita é feita com as folhas de uma palmeira originária do Sul de Portugal e Espanha. Tem que ser apanhada, secada e depois trabalhada e cosida.
Alcofas, malas, individuais de mesa, suportes para copos e tantas outras coisas saem das mãos das 3 mulheres que ali trabalham.
Tal como Sónia, o mestre Analide do Carmo tem nas mãos a sua forma de vida. Cobre, latão, bigornas, martelos e a forja não podem faltar numa oficina de caldeireiro.
Para fazer, por exemplo, grandes tachos de latão, amarelos e reluzentes. "Servem para fazer o Xerém e os doces, a marmelada". As cataplanas em cobre são muito procuradas. O mestre Analide gaba a resistência de um utensílio destes, feito à mão: "Uma pessoa pode pôr-se em cima de uma cataplana destas que não amachuca", garante.
Depois de ter estado tantos anos longe de uma forja, o mestre Analide retomou o gosto à arte e quer deixar ensinamentos futuros. "Como vejo que ninguém sabe, dá-me gosto fazer isto à mão. Tudo está no cérebro da gente, a gente é que dá o formato à peça, é tudo feito a olho".
Porque ali não há moldes, apenas mãos que talham cada peça com muita arte.