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"O meu sangue ficou frio, gelado. Eu fiquei totalmente paralisada com incapacidade para fazer alguma coisa, a não ser ficar em pânico". As memórias de Sarah Whitehead estão bem presentes, assim como a mudança na vida a que as chamas e a destruição da casa obrigaram.
Quando o fogo se aproximou fugiu com os dois cães e uma mala, mas ainda voltou atrás para recuperar um anel oferecido pelo pai. Tem-no hoje consigo, no dia em que recorda os incêndios de outubro que atingiram o sítio onde vivia, Arganil.
As chamas não lhe roubaram só a casa. Sarah separou-se do marido porque nenhum dos dois conseguiu ultrapassar a dor e perdeu um cão que teve um ataque cardíaco ao regressar a casa. "Não tenho casa, não tenho pertences. Saí de casa quando tinha 17 anos, tenho 53 anos e tenho menos agora", garante.
No fatídico dia pediu ajuda ao vizinho para chegar à estrada principal, onde ia apanhar boleia de uma amiga, e ouviu um "não". Ainda sente raiva quando recorda esse momento.
Agora, a britânica vive numa "roulotte na encosta de uma montanha ardida". É o que tem. O veículo e o seu fiel companheiro.
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Quando olha para trás sente algum "arrependimento" por não ter feito mais para salvar a casa, mas já não havia água, o cheiro era imundo e o calor extremamente forte.
Ouça aqui a versão áudio desta história, com sonoplastia de Alexandrina Guerreiro
O episódio com a história da imigrante Sarah Whitehead é o oitavo das "15 memórias do fogo" , o projeto da autoria de Tiago Cerveira e de Rodrigo Oliveira, ambos beirões, que foi realizado sem qualquer apoio. O objetivo dos autores é não deixar que o país esqueça a tragédia e também dar voz aos afetados pelos incêndios de 15 de outubro 2017.