Empresa portuguesa cria olho artificial capaz de ver interior de obras de arte

É portuguesa a nova tecnologia que permite "ver" o interior das obras de arte, identificar os materiais que as compõem e assim poder melhorar a qualidade das intervenções de conservação e restauro.

Esta solução de visão artificial, com base em imagem multiespectral, foi desenvolvida pela Xpectraltek, uma startup sediada em Braga e incubada no Parque de Ciência e Tecnologia da Universidade do Porto (UPTEC).

A TSF foi testar a Xpecam, uma espécie de olho gigante capaz de "ver" para além do que está à vista, com Sara Martins, conservadora-restauradora da Signinum, uma empresa de Braga dedicada ao restauro de património, responsável, por exemplo, pela reabilitação da igreja e da Torre dos Clérigos no Porto.

"Através desta nova solução conseguimos detetar uma vasta informação, desde técnicas de produção, danos, intervenções que já sofreram, com a vantagem de ser uma tecnologia não invasiva nem intrusiva, ou seja, não precisamos de recolher uma amostra, destruindo uma parte da peça, para ter toda essa informação", destaca, desde logo, enquanto vai demonstrando o que o equipamento "vê", com recurso a infravermelhos e radiação ultravioleta, no interior da pintura, um retrato, do século XVIII, que ali se encontra para ser intervencionado.

"Notamos aqui uma mancha que é posterior à produção, não é original, o que nos dá indicação que poderá ser uma material diferente e no processo de limpeza já nos vai facilitar a escolha do solvente, além de nos fornecer informação sobre a história da peça até chegar às nossas mãos", acrescenta.

Para além de reduzir o erro nas técnicas de conservação e restauro, esta nova solução permite antecipar problemas, na medida em que "se detetarmos que há uma reação diferente, mesmo antes de se ver a olho nu, nós já vamos à procura da causa e conseguimos, atempadamente, com uma intervenção menos intrusiva, resolver o dano".

Esta nova tecnologia tem viajado pela Europa para se dar a conhecer e, pelo caminho, já foi desvendando algumas surpresas. "No Museu da Real Academia de Belas-Artes de São Fernando, em Madrid, apareceu-nos uma senhora com um livro com várias páginas censuradas pela Inquisição. Numa delas vemos a imagem completamente rasurada, que com esta tecnologia conseguimos "descensurá-la", permitindo-nos ver a imagem do que presumimos ser um clérigo ou um papa, pois só eles utilizam a mitra, com uma cabeça de cão, num livro mais ou menos doutrinal", conta Carlos Aguiar, diretor de operações da Xpectraltek.

António Cardoso, diretor executivo daquela startup, explica que esta tecnologia tem aplicabilidade em muitas outras áreas, para além do património, nomeadamente "na Agricultura e na Indústria, relacionado com o controlo de qualidade, mas também na Saúde ou na Farmacêutica. Agora não escondemos que é mais interessante e traz-nos mais visibilidade apontar a solução para uma peça de arte lindíssima do que para uma cultura de tomate".

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