Mitch Lowe diz que todas as grandes empresas tecnológicas começaram porque os seus criadores queriam resolver um problema. O dele? Não gostava de videoclubes. E assim, nas duas últimas décadas tudo mudou.
"A coisa mais incrível nestes últimos anos é como se pode pegar numa ideia e fundar uma empresa que, num período muito curto de tempo, se transforma num negócio que vale mais de mil milhões de dólares".
O empresário lembra que "houve mesmo um período em que todas as semanas, durante vários anos seguidos, uma nova empresa que tinha sido fundada sobre uma ideia, uma solução para um problema, passava a valer mil milhões de dólares". Soluções que em alguns casos estão a virar o mundo do avesso.
"Todos conhecemos exemplos. O Travis Kalanick [fundador da Uber] estava num subúrbio de Paris e não encontrava um táxi e pensou: não seria fixe se eu pegasse no meu telemóvel e aparecesse um carro?".
Soluções que às vezes têm resultados absolutamente inesperados
O exemplo que Mitch Lowe dá ainda vem da Uber: "o meu filho foi multado numa pequena cidade da Califórnia aqui há uns anos. E eu fui com ele à polícia para pagar. O polícia que o multou veio ter comigo e agradeceu-me por eu estar ali para pagar a multa. Eu perguntei «porquê?!» E ele responde que «desde que apareceu a Uber nós não estamos a passar tantas multas e a nossa cidade está a ficar sem dinheiro» ".
Outro exemplo: "Imaginem: antes, no aeroporto de Los Angeles tínhamos de dar imensas voltas à procura de um lugar, demorávamos meia hora. Agora, os estacionamentos estão vazios".
Mas Mitch Lowe também teve o seu momento de riso ao pensar: "vamos construir um negócio que vai ter todos os DVDs disponíveis, mandamo-los diretamente para a casa das pessoas. Criamos este envelope onde se põe o DVD e ele regressa até nós. Todos saímos dali a pensar que tínhamos encontrado um modelo de negócio espetacular. Mas a ideia que parecia brilhante, num primeiro momento não foi aprovada na reunião familiar.
"Fui para casa", conta, e o meu filho disse: "Pai, essa é a ideia mais estúpida de sempre. Há lojas de vídeo em todo o lado, porque é que haverias de fazer isso?".
O nascimento da Netflix
Em julho de 2008 começaram a circular os primeiros DVDs pelos correios de todos os Estados Unidos. Tudo corria bem até que um cliente os pôs novamente a pensar em como resolver um problema: "Ouvimos por acaso um jovem de Denver a dizer que quando encomendou o filme queria uma comédia, mas três dias depois, quando o DVD chegou, já queria drama". A solução para isso é o streaming, mas antes disso os cérebros da Netflix tentaram outras soluções.
"Tivemos esta ideia em que o envelope que enviávamos às pessoas, teria o endereço da pessoa que iria usar o DVD a seguir, em vez de ser devolvido aos nossos armazéns. Aquilo a que chamámos de correio peer-to-peer (parte-a-parte). Mas claro, esquecemo-nos que há leis de privacidade na América e que não é possível que as pessoas saibam o que as outras estão a ver".
Está bom de ver que "essa ideia falhou". O que também falhou foi o negócio que propuseram à concorrente Blockbuster.
Esta era a altura em que a gigante do aluguer de vídeos se podia ter salvado da falência. Os sócios da Netflix propuseram o negócio, conta Mitch Lowe.
"Porque é que não compram metade da nossa empresa?", disse à época. Eles olharam para nós e disseram "porque é que haveríamos de fazer isso? Sabemos muito mais sobre este negócio do que vocês alguma vez saberão".
"Claro que a Netflix, hoje em dia, vale qualquer coisa como 150 mil milhões de dólares. E acho que não se veem muitas lojas da Blockuster por aí", atira Lowe.
