Tensão no Porto de Setúbal. Estivadores em protesto retirados pela polícia de intervenção

Estivadores estão concentrados desde as 6h00 no Porto de Setúbal, em protesto contra o carregamento, assegurado por trabalhadores substitutos, de um navio com viaturas produzidas na fábrica da Autoeuropa.

A tensão aumentou quando um autocarro com estivadores substitutos chegou ao Porto de Setúbal, para carregar um navio com veículos produzidos na fábrica da Autoeuropa, num altura em que os trabalhadores precários deste porto se encontram em greve, exigindo um contrato coletivo de trabalho.

Mais de uma centena de estivadores bloquearam a entrada do autocarro que transporta os trabalhadores que os vão substituir no carregamento do navio.

Os estivadores sentaram-se no chão para dificultar as operações da polícia de intervenção, que começou a retirá-los à força, para abrir caminho para a passagem do autocarro.

O autocarro que transportava os estivadores contratados para a substituição acabou por conseguir entrar o recinto, já depois das 9h00.

"Estamos aqui para assistir a este dia vergonhoso para a democracia portuguesa porque [é isto que acontece] quando um Governo se põe ao lado de criminosos - porque aquilo que estamos a denunciar é um crime que se vive um pouco por todo o país, de perseguição aos sócios do sindicato, discriminação salarial e tudo mais", disse António Mariano, do Sindicato dos Estivadores e Atividade Logística (SEAL).

"Temos a informação de que os trabalhadores que vêm substituir os eventuais do Porto de Setúbal vêm ganhar 500 euros para trabalhar três dias. Durante 20 anos nunca tiveram disponibilidade para fazer um contrato sem termo aos 150 trabalhadores eventuais do Porto de Setúbal [90 da Operestiva e os restantes Setulsete]", acrescentou.

O dirigente sindical, que se juntou ao protesto dos trabalhadores eventuais do Porto de Setúbal, admite que a luta dos trabalhadores portuários se poderá agudizar "face a este comportamento" das empresas portuárias, mas remete para mais tarde uma decisão sobre um eventual agravamento das formas de luta.

António Mariano também considera "criminoso" que os associados do SEAL em diversos portos sejam perseguidos e lamenta que as entidades patronais do Porto de Setúbal não se tivessem ainda disponibilizado para reunir com o sindicato, que, segundo disse, propôs esta semana algumas datas para essas reuniões.

Esta quinta-feira, está montado um forte dispositivo policial junto ao Porto de Setúbal com dezenas de elementos na Unidade Especial de Polícia e da brigada de intervenção rápida da PSP, mas até ao momento, e apesar da tensão, não houve qualquer incidente.

Os trabalhadores eventuais do Porto de Setúbal estão parados desde o dia 5 de novembro para exigirem um contrato coletivo de trabalho.

A empresa Operestiva propôs, entretanto, a integração de 30 trabalhadores, mas só dois assinaram os contratos individuais que lhes foram propostos.

A grande maioria dos estivadores eventuais exige um contrato coletivo, previamente negociado entre os operadores portuários e o SEAL.

Na segunda-feira, a ministra do Mar, Ana Paula Vitorino, enviou uma carta ao IMT - Instituto da Mobilidade e Transportes e à APSS - Administração dos Portos de Setúbal e Sesimbra na qual pedia a correção das "disfunções" provocadas pelo excesso de trabalhadores precários, o que parecia indiciar que a solução do problema iria passar pela via do diálogo.

Contudo, as empresas portuárias recusam-se a dialogar enquanto o sindicato não levantar a greve ao trabalho extraordinário, que se deverá prolongar até janeiro próximo.

O SEAL alega que esta greve nada tem a ver com o problema dos trabalhadores eventuais do porto de Setúbal, mas com a "discriminação" de trabalhadores filiados no sindicato que trabalham nos portos do país.

Já na quarta-feira, a Autoeuropa recebeu garantias do Governo para a realização do carregamento de automóveis que está marcado para hoje.

Segundo a empresa, o planeamento do navio, que faz parte das escalas regulares para o porto de Emden, na Alemanha, "teve por base a garantia de uma solução para o embarque de veículos dada pelo Governo e pelo operador logístico".

A este propósito, António Mariano afirma: "Com esta santa aliança entre patrões e o Governo, aquilo que vai acontecer hoje no porto de Setúbal é que este navio de transporte de automóveis vai trabalhar, mas vão ficar quatro ou cinco parados".

"Se calhar vamos ganhar por quatro ou cinco a um", disse o sindicalista, convicto de que os trabalhadores podem perder esta batalha, mas que vão acabar por ser integrados no efetivo do porto de Setúbal.

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