Na primeira noite do incêndio chegaram a ser centenas os desalojados no concelho de Santa Comba Dão que passaram a noite fora de casa por precaução. Mas, na noite desta segunda-feira, na Casa da Cultura da cidade, vão dormir aqueles que viram a sua habitação ser consumida pelas chamas.
A reportagem do jornalista Miguel Midões
Na Casa da Cultura de Santa Comba Dão distribui-se roupa, dá-se de comer e arranja-se o aconchego possível para quem perdeu a casa nas chamas, como é o caso de António Carneiro, da aldeia de Fontainhas. "Foi casa, foram os animais e foi tudo". Não houve hipótese de fazer nada pela casa. Conseguiu salvar a mulher e a neta, que tinham com o casal.
Foi António Carneiro que desconfiou do som que ouvia no telhado. Quando abriu a porta de casa, "era lume por todo o lado. Mais um minuto ou dois e ficava lá a minha mulher".
Ficaram os animais. Não os conseguir salvar. No domingo passou a noite na Igreja Paroquial de Santa Comba Dão e agora garante que, sem apoios, não consegue reconstruir a casa. "Tudo o que tinha: dinheiro, medicamentos, óculos, ficou tudo lá. Estou aqui com estas calças que consegui trazer".
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António Carneiro tem 61 anos. Está cansado. O vizinho tenta dar-lhe alento. António Paiva Carvalho também ficou sem casa. "Vi um clarão e tive que vir logo embora. Desandei. Trouxe o que trazia vestido e calçado".
Ainda não visitou a casa queimada. Deve lá ir amanhã. Tem consciência que vai doer. "Vai ser preciso dinheiro para reconstruir aquilo. É um bico-de-obra", afirma agarrado à bengala e franzindo a cara em jeito de conformação.