INATEL leva Rio de Onor a Lisboa

Cerca de 50 moradores, na sua maioria com mais de 70 anos, já preparam a viagem para Lisboa que só acontecerá na primavera. Para muitos a ida à capital é uma estreia.

De Rio de Onor a Lisboa vai uma vitória de distância. A peculiar aldeia do concelho de Bragança, junto à fronteira espanhola, acaba de ganhar um concurso nacional da Fundação INATEL (Instituto Nacional para o Aproveitamento dos Tempos Livres) que se chama "Aldeia dos Sonhos". O prémio? É um fim de semana para todos os habitantes de Rio de Onor, em Lisboa

O jornalista Afonso de Sousa foi conhecer a população de Rio de Onor

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Os cerca de 50 moradores da aldeia comunitária, quase todos com mais de 70 anos, já estão a fazer preparativos para a viagem que há de acontecer lá para a primavera. Muitos vão ver Lisboa pela primeira vez.

É no quintal, atrás da casa, quase no fim da rua da Igreja, que Bernardino Preto, de 82 anos, está concentrado, num trabalho muito particular. " Tenho que estar aqui concentrado, nas galinhas, senão vem ela e leva-mas outra vez. Ela anda por aí ranceira, ranceira e apanhou-a sem darmos por conta. Eu estava aqui a picar lenha, a minha mulher estava ali sentada e quando fomos a encerrá-las faltava uma galinha. Pronto! Lá a raposa a levou", diz desolado.

De ver raposas em Lisboa não se lembra, mas lembra-se dos cinco dias que passou na capital quando fez a tropa em Mafra, em 1955. "Fomos a uma guarda de honra de um gajo que vinha de fora. Foi ali na zona da feira popular, naquele antigamente, já foi em 1955".

Desse tempo guarda fotograficamente a Mafra do meio do século passado e gostava de lá voltar e, em princípio, este comerciante reformado, vai aproveitar para ficar mais um dia ou dois, com um neto que tem em Sintra e voltar para ver o quartel.

A Batalha, os Jerónimos e o Cristo Rei estão na agenda de Bernardino Preto. Confessa alguma ansiedade e elogia a iniciativa do INATEL.

Representantes do INATEL Já estiveram na aldeia raiana e numa reunião com todos decidiu-se que o fim de semana da viagem será lá mais para a primavera. Os dias são maiores e mais quentes. Maria Alice tem 68 anos. Já foi à capital...há muito tempo. "Já foi há tanto tempo que nem me recorda do que vi lá. Voltando, ainda melhor, vamos ver outras coisas".

Também Adília São Romão quer festejar esta vitória coletiva. "Agora é a aldeia dos sonhos, estamos de parabéns, ficámos em primeiro lugar. Já lá fui duas ou três vezes mas estamos sempre prontos para festejar a vitória da nossa aldeia".

Rio de Onor fica a 27 quilómetros de Bragança, colada a Espanha, que até ao 25 de abril vivia em plena comunidade. Os animais, os campos, as regras sociais, tudo era tratado num conselho de aldeia. Havia gente, muita. Hoje são cerca de 50 habitantes, praticamente todos idosos.

Do outro lado da raia, que aqui nunca existiu, está Rionor espanhol. Um povo que agora tem 12 habitantes. Sempre fizeram vida com eles. De um lado e do outro. As regras de Franco e Salazar pouco se sentiam. O que mais se ouvia eram os sons das festas quando se casavam rionorenses espanhóis com riodonorenses portugueses, diz Norberto Preto. " Já há mais de 20 anos que não se casa aqui ninguém. Antigamente não saíamos daqui. Só para ir a Bragança levar uma saquinhas de carvão para governar a vida. Íamos a pé com os carros de bois. Às vezes também íamos a uma festa de uma aldeia ou outra aqui perto. Trabalhávamos nos campos. Era uma vida muito dura. Eu casei aqui. Ainda sou dos antigos (risos)".

Norberto Preto (sim porque aqui quase todos se assinam "Preto") tem 73 anos. É um daqueles que nunca foi a Lisboa. "Nunca fui a Lisboa mas há mais cá que nunca foram. Eu já fui ao Porto duas ou três vezes mas a Lisboa, não. Penso que deve haver lá coisas muito bonitas".

Mas há uma mais interessante que outras para Norberto Preto. "Gostava de ir ao estádio do Benfica".

Um sonho que a aldeia toda vai testemunhar, mas há mais. António Preto conhece bem Lisboa. Trabalhou lá vários anos. Mas ainda há uma coisa que gostava de fazer. "Outro dia quando vieram aí os indivíduos do INATEL deram uma ideia que eu não conhecia. Dizem que há um autocarro que percorre as ruas de Lisboa, entra no mar e transforma-se num barco. Isso eu gostava de ver e fazer".

Agora venha a primavera. Através do INATEL, sonhos de uma vida vão poder ser realizados a cerca de 50 habitantes de Rio de Onor. Diz-se por aqui que os vizinhos também vão fazer parte da viagem, ganha por uma aldeia que é realmente de sonho.

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