"Isto é uma vergonha". Limpeza das propriedades discutida em Figueiró dos Vinhos

Habitantes condenam proprietários que não fazem a limpeza dos terrenos em torno das habitações. Em vários locais, as ervas e as silvas serviram de combustível para o incêndio.

Enquanto os incêndios ainda lavram no centro do país, vão-se discutindo temas como a falta de meios humanos e materiais, os difíceis acessos a povoações ou a falta de investimento na floresta, mas, a forma como é feita a limpeza de propriedades privadas e dos baldios também tem originado conversa entre os habitantes que viram as chamas a aproximarem-se e a destruírem casas, barracões e culturas.

No Casal de Alge, a poucos quilómetros do centro de Figueiró dos Vinhos, todos se conhecem, mas nem todas as casas estão habitadas de forma permanente, e há quem passe boa parte do ano fora.

João Dias, um dos habitantes que, no passado sábado teve de fugir da aldeia, indica o terreno de um dos vizinhos e aponta para as ervas altas que acabaram por contribuir para o propagar das chamas.

"O dono disto não está cá, mora ali ao pé de Figueiró", adianta, enquanto atira um lamento: "Olhe, ardeu. Ardeu".

No concelho, ao passar pelas várias freguesias e lugares, há sempre alguém que se queixa do mau estado em que alguns proprietários deixam os terrenos que rodeiam as habitações. Terrenos pouco cuidados que, muitas das vezes, são deixados quase ao abandono por quem mantém as propriedades mas decide viver noutras paragens.

Aqui, a juntar a outros elementos, as ervas e as silvas também servem de combustível para o alastrar de um incêndio. Pode não ser o principal problema, mas, apontam vários habitantes, também ajuda.

"Temos aqui duas casas que são uma vergonha, os proprietários não querem saber. Ninguém é obrigado a gostar disto aqui, mas eu só pedia respeito pelas pessoas que gostam", diz Maria de Fátima Gabriel, que, apesar de viver durante boa parte do ano em Lisboa, continua a cuidar da vegetação em torno na casa que mantém em Trespostos, na freguesia de Campelo.

Segundo Maria de Fátima, se a lei existe e se os proprietários são obrigados por lei a limpar nos 50 metros em redor das habitações, a lei deve ser cumprida: "Isto que está aqui com estas silvas é um crime", afirma, enquanto conta que, antes de fugir da aldeia, o combate às chamas foi feito com as mangueiras que normalmente são usadas para as "pequenas brincadeiras de cultivo das terras".

A menos de cinco minutos de automóvel, em Alge, Lúcio Mendes é o responsável pela Comissão de Compartes que administra os baldios de Alge, na freguesia de Campelo. Com o amigo Vítor Santos, Lúcio também discute o tema da limpeza dos terrenos privados e da gestão baldios. O trabalho da comissão, garante, tem sido bem feito.

"Nós temos de limpar os caminhos para passarem as máquinas, tratores, carros dos bombeiros, quando a água falta temos uma máquina para repor isso tudo. E isto é gerido assim", explica Lúcio, enquanto Vítor lembra que a limpeza dos terrenos privados pelos proprietários não é a melhor.

"Isso é impossível, está fora de questão", diz, defendendo, no entanto, que, no caso do grande incêndio dos últimos dias, houve outros motivos para que as chamas atingissem tamanha dimensão: "O ano passado tivemos um incêndio, mas houve aviões e bombeiros. Agora, estivemos quase 24 horas sem ninguém aparecer. O fogo é normal que aconteça todos os anos".

Mais Notícias

Outros Conteúdos GMG

Patrocinado

Apoio de