Há histórias de espionagem, histórias de desespero e de lutos enganados. Muitas dessas histórias estão guardadas no Museu Marítimo de Ílhavo.
Álvaro Garrido, professor da Universidade de Coimbra e consultor do Museu conta que passados alguns anos um homem desaparecido no naufrágio regressou à terra já a mulher estava de luto e revela que muitos pescadores desertavam depois de resgatados por navios norte americanos quando se perdiam sozinhos nos "dóris" (botes) enquanto pescavam bacalhau à linha. E há ainda as histórias de alguns radiotelegrafistas da frota bacalhoeira portuguesa que faziam espionagem para o regime nazi.
Álvaro Garrido acredita que os casos dos naufrágios como o do lugre "Maria da Glória", a 5 de Junho de 1942, depois de atingido por um submarino de guerra alemão, são inseparáveis do posicionamento português em relação à guerra, a dita neutralidade.
A manutenção da frota durante a II Guerra Mundial foi um decisão de Salazar. Durante esse período, "Portugal pescou mais bacalhau do que nunca nos mares da Terra Nova e da Gronelândia", afirma Álvaro Garrido. O bloqueio comercial e económico e "a obsessão " da normalização do abastecimento estão, acredita o investigador, na origem da decisão.
Rita Costa e José Manuel Cabo regressaram ao passado com o naufrágio do "Maria da Glória"
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Álvaro Garrido considera que há na história da frota branca (assim era conhecida pelo facto dos navios serem pintados de branco com os distintivos bem visíveis a preto de forma a serem identificados como sendo de um país neutro) muito material para a ficção. O professor e consultor do Museu de Ílhavo lamenta que até hoje apenas Bernardo Santareno, que foi médico na frota, tenha escrito sobre aquela que considera ser a maior aventura marítima portuguesa depois dos Descobrimentos.