Além de apontar o dedo à EDP e a um fogo até hoje desconhecido, o relatório encomendado pelo Ministério da Administração Interna à Universidade de Coimbra para perceber o que aconteceu no grande incêndio de Pedrógão Grande volta, tal como outras investigações, a criticar fortemente o combate às chamas no trágico 17 de junho em que morreram 65 pessoas e mais de 200 ficaram feridas.
Nos parágrafos seguintes a TSF apresenta alguns dos outros pontos muito criticados pelos especialistas em comportamento e combate a fogos.
Falha geral do sistema de emergência
O documento diz que "a grande dimensão da tragédia colocou em evidência que o nosso sistema de emergência não está preparado para fazer face a um número tão massivo de pessoas afetadas, feridas ou mortas. A prestação de apoio psicológico e socorro médico e hospitalar teve deficiências que importa estudar melhor".
Ficar em casa tinha sido mais seguro
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O relatório feito com a coordenação do especialista em fogos Xavier Viegas acrescenta que "apenas quatro das 65 vítimas deste incêndio perderam a vida dentro de casa, verificando-se que "para a larga maioria das vítimas, e mesmo para outras pessoas que sobreviveram à exposição ao fogo enquanto fugiam, a permanência em casa teria sido a opção mais segura".
Falhas de comunicações foram fatais
É ainda apontado o dedo ao sistema de comunicações por rádio e por telefone que "teve uma falha geral em toda a região, quer por limitações inerentes aos sistemas, como sejam a sua pouca salvaguarda perante a exposição ao fogo, quer por sobrecarga de utilizadores, ou ainda por deficiente utilização de alguns dos sistemas".
Problemas "agravados pela indisponibilidade de meios complementares devido a falta de planeamento", sendo que "a falha do sistema de comunicações terá contribuído para a falta de coordenação dos serviços de combate e de socorro, para a dificuldade de pedido de socorro por parte das populações e para o agravamento das consequências do incêndio".
Nenhuma operação de busca e salvamento
A coordenação das operações foi "claramente" afetada quando se tomou conhecimento dos muitos mortos, sublinhando-se que "não foi feita uma operação de busca e salvamento em larga escala - em condições muito difíceis - para ir junto dos feridos e levá-los para locais onde pudessem ser tratados".
Os autores do relatório acreditam que se "poderiam ter evitado algumas mortes e muito sofrimento aos feridos, se este socorro tivesse sido mais pronto e melhor organizado".
Tempestade de fogo
Depois de analisarem os dados, os especialistas dizem que "num período entre as 20h00 e as 21h30 desenvolveu-se uma autêntica tempestade de fogo que percorreu, de um modo imprevisível, uma vasta área do território, em condições tais que o combate direto ao incêndio era impraticável e perigoso".
Falta de limpeza da EN236
Em paralelo, é ainda apontado o dedo à "falta de limpeza da envolvente das estradas que permitiu que muitas pessoas fossem colhidas em plena fuga, pelo fumo e pela radiação do incêndio, pelas chamas da vegetação em redor e mesmo por árvores caídas na própria estrada", nomeadamente num troço com 400 metros da EN236-1 onde 30 pessoas perderam a vida.