Para a sociedade, em geral, a Polícia Judiciária (PJ) é, e sempre foi, sinónimo de confiança. Para os poderes políticos é um elemento que incomoda. A perspectiva é de Teófilo Santiago, único inspector da PJ que recebeu um crachá de ouro, durante a atividade profissional.
"Tenho dúvidas que os poderes políticos tenham alguma simpatia pela Polícia Judiciária, porque [a instituição] não é domesticável, porque incomoda, porque tem dado mostras de independência e de isenção e não é facilmente manipulável", refere o antigo inspector no dia em que é assinalado o 70º aniversário da PJ.
Incómodos à parte, e afastado da vida profissional activa, Teófilo Santiago recorda uma vida profissional feliz. O sonho das brincadeiras na aldeia onde nasceu concretizou-se. "Naquele tempo não havia assim tanta coisa para diversão. Naturalmente foi uma coisa que sempre me fascinou".
Aos 27 anos, no início da década de 80, Teófilo Santiago encontrou uma instituição que não condizia com a seu espírito rebelde. "A imagem que retenho é de pessoas muito trabalhadoras, mas muito cinzentas, muito funcionalizadas. Eu sou de uma geração que apanhou uma grande mudança política... numa idade de 17 anos".
Durante 30 anos, o antigo inspector da PJ assistiu a uma revolução dos meios de investigação. "A fotocopiadora, quando apareceu, era um sonho, porque até ali fazia-se tudo em triplicado com papel. Os meios técnicos para as investigações eram muito primários. Só faltava fazer sinais de fumo".
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Teófilo Santiago chefiou investigações de alguns dos processos mais mediáticos da justiça portuguesa, como o Apito Dourado ou o Face Oculta. Diz que fazem parte do passado, e sobre casos concretos recusa falar, mas garante que todas as decisões que tomou foram bem ponderadas. "Não prescindia de estar sozinho durante bastante tempo. De preferência junto ao mar".
O ponto final na carreira de Teófilo Santiago aconteceu em Fevereiro de 2014. Confessa que se preparou para esta etapa da vida, mas não fala em reforma, porque a Polícia Judiciária foi e é a sua vida.