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João Nunes é um vigilante da natureza que há 12 anos deixou Lisboa para trás e agora trabalha na delegação do ICNF - Instituto de Conservação da Natureza e Florestas, em Mogadouro.
Tinha 23 anos quando terminou biologia na faculdade de Ciências de Lisboa. O trabalho obrigava-o a saídas constantes da capital para várias zonas do país. Queria sediar-se num local onde pudesse estar mais perto do local de trabalho. A paixão pela natureza mudou-lhe radicalmente a vida.
Conheça a história de João Nunes, o vigilante da natureza que trocou Lisboa por Trás-os-Montes
"Fiz um estágio numa associação de proteção de asininos numa aldeia de Miranda e depois fui ficando e há já alguns anos que estou aqui no ICNF. Costumo dizer Trás-os-Montes é uma terra maldita. Amarra-nos e nunca mais nos conseguimos livrar dela".
Já lá vão sete na delegação do Parque do Douro Internacional. Com esta aproximação à floresta transmontana pode verificar diferenças assináveis da floresta mais urbana como a de Sintra-Cascais ou da serra da Arrábida. "Essa é muito mais lúdica e cénica. Aqui é uma fonte de recursos, um ponto de partida para a sobrevivência e subsistência das populações".
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João Nunes sabe que uma boa gestão é a ação principal para cuidar da floresta mas assinala um ponto importante para que ela não seja, muitas vezes, feita no interior. "O despovoamento leva a um abandono dos campos, embora quem está cá faça uma gestão cuidada dos terrenos e da floresta. Muitas vezes quando procuramos os donos eles já morreram há 50 anos ou estão na França ou Suíça".
João Nunes acrescenta que "quando cá vêm, no Natal ou na Páscoa não é para limpar terrenos e nós não conseguimos acordos para implementar algumas medidas. Como estado muitas vezes não conseguimos resolver e o facilitar não se resolve, com o deitar dinheiro em cima do problema".
É por isso que o vigilante da natureza acredita que muitas decisões deveriam ser tomadas com mais conhecimento das realidades que existem por todo o país.
"As decisões e os decisores estão todos no meio urbano. Não é que não saibam decidir bem mas inevitavelmente, muitas vezes não têm noção do que é viver num território como este. Quem está fora desta realidade tende ser a ver a coisa como uma fotografia estática e (tende) a ver os problemas de uma maneira muito mais simples e com soluções diretas e não percebe que isto é uma rede de equilíbrios que facilmente se desequilibram".
É por sentir tão de perto esta ruralidade que o vigilante da natureza deixa um apelo a todos. "Portugal é muito mais paisagem do que Lisboa. Esta paisagem, para mim, é o valor principal ou mais bonito de Portugal. Devíamos debruçar-nos mais sobre ele no sentido de o conhecer mas também de o valorizar, seja pelos produtos que produz seja nos modos de vida (...) às vezes confunde-se o sermos poucos com o estar parado. Não está parado. A economia mexe, as pessoas mexem, a paisagem mexe e evolui e podemos levá-la onde a gente quiser."
Ideias de João Nunes, um lisboeta, amante da natureza que aos 35 anos vê e sente o nordeste transmontano como a sua casa.