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Miguel Duarte e outras nove pessoas estão a ser investigadas pelas autoridades italianas depois de o barco onde faziam os resgates ter sido apreendido pela polícia. O barco chama-se "Iuventa" e operava em águas internacionais desde o verão de 2016. Um ano mais tarde, o navio foi intercetado pela polícia italiana na ilha de Lampedusa e, desde então, está na posse das autoridades.
Miguel Duarte trabalhava para a organização não-governamental (ONG) alemã Jugend Rettet que operava o barco no resgate de migrantes no Mediterrâneo e está agora sob investigação.
"Neste momento, temos dez pessoas da organização sob investigação, sob esta suspeita de colaboração com redes de tráfico humano, e não somos os únicos. Na verdade, existem outras ONG que estão com vários problemas do mesmo género. Nós fomos simplesmente a primeira", explicou à TSF.
Miguel Duarte é o único português num grupo de ativistas que pode ser acusado de colaboração com redes de tráfico humano. Para já, está tudo em aberto porque está a decorrer a investigação preliminar. "Em caso de acusação, teríamos provavelmente que estar presentes em tribunal com os nossos advogados. O pior dos casos seria uma condenação que pode dar vários anos de prisão porque é um crime internacional bastante grave", contou Miguel Duarte.
O ativista confessa que tem "vários receios" a nível pessoal mas também teme que a forma como Itália tem tratado as ONG tenha resultados graves para a crise migratória. Miguel Duarte defende que o trabalho humanitário das ONG "está a ser, de alguma forma, criminalizado" devido à "hostilidade por parte das autoridades italianas".
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Miguel Duarte acrescenta que "por não haver por parte da União Europeia um programa de resgate organizado naquela zona do Mediterrâneo, simplesmente há pessoas que estão a morrer, porque não há ajuda. Não há navios que estejam lá com o objetivo de resgatar pessoas".
Miguel Duarte fez vários resgates em águas internacionais perto da costa da Líbia e fala mesmo de um "desastre humanitário". "Vimos muita gente a morrer, vimos muita gente em grave perigo de vida, vimos o que a guarda costeira Líbia faz às pessoas que encontra e vimos o medo das pessoas que fogem da Líbia, do racismo, da perseguição e da escravatura que sabemos que existe hoje em dia na Líbia", recordou.
Miguel Duarte defende que o trabalho das organizações funciona como uma resposta de emergência e que a verdadeira solução para o problema está nas mãos da Comissão Europeia e das organizações internacionais.