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Ao fim de três dias e duas noites sem que o corpo veja a cama, Adolfo e Manuel, taxistas há mais de 20 anos, estão de pedra e cal no protesto que decorre nos Restauradores, em Lisboa.
Estes profissionais são apenas dois dos mais de 2.000 que esta sexta-feira, ao terceiro dia de protesto, estão parados em Lisboa, Porto e Faro
"Estamos cansados, todos 'rotos' mas é para continuar", desabafou Adolfo, para quem o Governo deixou o setor do táxi "ao abandono".
"Sabe", continuou, "somos prejudicados, isto é mesmo um castigo do Governo, já que andamos a trabalhar e temos de pagar impostos, enquanto estão a deixar trabalhar os ilegais".
Manuel tem o seu táxi ao pé do de Adolfo, ambos estacionados desde quarta-feira na Avenida da Liberdade, junto ao Marques de Pombal. Foi lá que dormiu as duas últimas noites, com a barba desalinhada a confirmar que não é feita desde então.
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Do carro vão saindo para comer uma sopa ou uma sandes no café e esticar as pernas. Nas malas dos carros vêm-se geleiras azuis onde dizem ter águas, sumos e algumas cervejas.
"Nós vamos aqui ficar o tempo que for preciso", garantem à Lusa.
Com mais de 40 anos de profissão, também António Valente se mostrou irredutível em abandonar a avenida.
"Não sabemos se vamos ganhar, mas não vamos sair daqui", frisou António, referindo que todos os anos deixa "sete cheques" para pagamentos dos vários impostos obrigatórios e ainda paga "todos os meses ao contabilista para ter as contas em dia".
Também Manuel, que não quis adiantar o apelido, disse à Lusa que "faz mossa" estar parado tanto tempo, mas vai aguentar até segunda-feira, dia em que os representantes dos taxistas vão ser recebidos na Presidência da República.
"Até segunda aguento. Depois logo pondero o que faço, consoante o que for decidido", avançou.
Henrique Oliveira é taxista há 24 anos e também ele disse à Lusa não saber se está a ganhar ou a perder com a paralisação.
"Eu até vou dormir a casa. Mas abandonar a luta não faz sentido. Aguento até um mês se for caso disso", avançou.
Nuno Silva estava junto a Henrique, sentados na mala do carro, à sombra das árvores da avenida, já mais abaixo.
"Temos a noção de que o Governo está irredutível, mas nós também estamos. O secretário de Estado vem dizer que a Uber não compete com o serviço de táxi, isso parece uma anedota", gracejou.
Na avenida, a maioria dos táxis está fechada e sem ninguém lá dentro. Os bancos do jardim vão estando ocupados pelos taxistas que, para passar o tempo, vão conversando.
Vão perguntando uns aos outros se há cartas para jogar, surgindo como resposta: "Amanhã trago. Hoje vou a casa tomar banho".