A casa está lá, imponente. Na Rua dos Bons Amigos. É a maior casa da aldeia, de pedra, forte. Está intocada pelas chamas, mas a família que se preparava para jantar, deixou a mesa posta, o portão aberto. E morreu a fugir de carro.
Reportagem de Dora Pires no lugar de Várzeas
Eduardo parece um disco riscado, enumera nomes de uma lista interminável: "é o engenheiro António Lopes da Costa e foi a mulher que está com ele, a Lucília. E foi o filho, a mulher do filho, dois netos. E a filha da Lucília e o filho, que é engenheiro na Câmara de Castanheira."
Todos da mesma família, gente bem conhecida na terra. "Morreram todos a fugir, nos carros."
A contabilidade de Eduardo ultrapassa qualquer pesadelo, "ali mais abaixo também morreu o mulher do meu primo Mário e morreu a filha de 15 anos e uma filha de 11."
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Eduardo conta e reconta e tentar dar nome, parentesco, profissão a cada um que desapareceu no sábado. Quando já não sabe que mais voltas dar à lista, faz contas. Repete as contas mas o número é implacável: 11 pessoas que conhece bem, de toda a vida deles e de toda a sua vida.
É preciso perguntar várias vezes para que este homem de 73 responda sobre o que se passou na sua casa, na sua vida, naquele sábado. "Fui emigrante em França, fui empreiteiro, tinha madeiras e ardeu tudo". Assim, numa frase.
Mas logo acrescenta como se só agora se lembrasse do detalhe: "estávamos a jantar, estava cá o meu genro e a minha filha. Quando vimos o lume lá em baixo o meu genro mandou logo - vamos embora! Achei boa ideia. A minha mulher e a minha filha é que não quiseram ir. Ficámos. Fizemos bem.
Naquela noite ninguém sabia qual era a boa decisão.