Excesso de trabalho e ordenados baixos afastam médicos do serviço público

Estudo revela ainda que mais de metade dos médicos do Serviço Nacional de Saúde também trabalham no privado.

O excesso de horas de trabalho e os ordenados que dizem ser baixos são as principais razões que levam os médicos a abandonar o Serviço Nacional de Saúde (SNS). A conclusão é de um estudo feito pelo Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto em colaboração com a Secção Regional Norte da Ordem dos Médicos que revela ainda que 54,4% dos médicos acumulam funções no público e privado.

O trabalho coordenado pela investigadora Marianela Ferreira inquiriu apenas os clínicos da região Norte, mas o universo abrange 14 mil médicos com vários milhares a responderem ao inquérito.

Os resultados dizem que 60,5% dos médicos especialistas ouvidos disseram estar insatisfeitos ou mesmo muito insatisfeitos com o excesso de horas trabalhadas e 74,1% a queixarem-se do pouco tempo que passam com a família e amigos, com mais de metade a dizerem que é muito frequente ou praticamente todos os dias que ultrapassam o horário normal de trabalho.

Depois, outro fator a afastar os médicos do SNS é a falta de oportunidades de progressão na carreira, além dos incumprimentos dos descansos compensatórios obrigatórios pelo trabalho extra.

Para a investigadora principal do estudo, "é notório que a saída de médicos do SNS não se prende com o abandono do exercício da medicina, mas sim com a procura de melhores condições para o exercício da atividade médica", com o trabalho a revelar que quatro em cada dez internos ponderam sair do serviço público no fim da especialidade.

Sem expectativas profissionais

O estudo revela que metade dos médicos não ganha mais de 3 mil euros brutos, sendo que o descontentamento com salário se sente mais nos mais novos que estão em fases menos avançadas da carreira, sem "expectativas profissionais futuras".

Se olharmos apenas para os médicos que efetivamente já saíram do SNS para o privado, mais de 71,5% dos 253 que responderam ao inquérito queixaram-se do salário no público, 55,4% do tempo para a família, 52,2% da falta de participação nas tomadas de decisões e 51% das horas em excesso de trabalho e das condições físicas e equipamentos que tinham ao dispor.

Os números revelam ainda que "foram sobretudo os médicos mais novos e os que optaram por sair do SNS (sobretudo por emigração) aqueles que se revelaram mais descontentes", nomeadamente com o tempo de trabalho, as oportunidades de progressão na carreira e a remuneração.

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