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Na comissão parlamentar de inquérito ao caso de Tancos, ouviram-se, esta noite, as críticas de José Antunes Calçada, um dos generais que se demitiu em divergência com as exonerações de cinco comandantes pelo antigo chefe de Estado Maior do exército Rovisco Duarte.
O general Antunes Calçada considera que houve "uma gestão muito desastrosa" nos planos político e militar no caso de Tancos.
"Diria muito desastrosa, foi intensa, nunca vista e completamente desfasada daquilo que se via, do mais puro bom senso", acusa o responsável, apontando o dedo ao antigo ministro Azeredo Lopes que numa entrevista à TSF pôs "em causa que houvesse roubo".
"Um ministro não pode dizer" que não houve roubo
"Um ministro não pode dizer isto, é inadmissível. Só há duas hipóteses para estar a chamar ao exército: uma cambada de incompetentes que nem sabem o que têm ou sabem muito bem e estão a mentir para disfarçar faltas de material", esclarece.
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Questionado sobre se teve conhecimento de pressões políticas para que fossem demitidos os cinco comandantes, o general Calçada disse ter suspeitas mas não provas.
Afirmou, no entanto, que no chamado caso das alegadas discriminações no colégio militar, houve pressão para que houvesse demissões, uma posição que contraria o que, na altura, disse o Governo.
"Ele recusou-se a fazer aquilo que o ministro insistentemente queria que fosse feito, que era afastar o tenente-coronel Grilo e depois fazer-se o resto das coisas. Houve um braço de ferro. Em Tancos não sei se houve essa pressão, não faço a mínima ideia, tenho suspeições mas isso não conta", atirou o general.
Apesar de não saber se está ou não pressão em causa, José Antunes Calçada reitera que "se foi por pressão do ministro é gravíssimo, mas se foi por iniciativa do general Rovisco Duarte também é grave". "Para mim não me interessa se foi com pressão ou sem pressão, indescritível, inenarrável, imperdoável", realça.
Na comissão parlamentar de inquérito, o general disse ainda que o roubo de armas nos paióis de Tancos só pode ter ocorrido com cumplicidade interna.
"Só é possível desviar aquela quantidade de material com cumplicidades internas"
Para o general, "só é possível desviar aquela quantidade de material com cumplicidades internas, (...) militares que proporcionam o acesso, que desviam atenções, que fazem uma data de coisas".
O general Antunes Calçada, agora na reserva, defende ainda que na altura as chefias do Exército se deviam ter demitido.
"Um comandante, tudo aquilo que acontece ou deixa de acontecer na sua unidade, é sua responsabilidade. Por consequência, uma coisa deste género que foi gravíssima e desonrou o Exército, devia, se se chegasse à conclusão que foi por incúria ou desleixo dos chefes, é claro que era tudo para ser corrido, ou demitiam-se que era aquilo que devia acontecer", conclui.