


Os trabalhadores não são máquinas e os millennials não são talento
Sempre achei muita piada à ideia de que só trabalha quem não sabe fazer mais nada, porque toda a vida pensei que há sempre qualquer coisa melhor para fazer do que trabalhar, mas sempre gostei da minha profissão e na maior parte dos dias trabalhei com gozo, já lá vão bem mais de 30 anos. Vi, no entanto, que chegue para saber que aquilo que o Relatório do Custo do Stresse e dos Problemas de Saúde Psicológica no diz é que há um problema para resolver, mas nós fazemos de conta que não vemos o que temos à frente do nariz.

Um belo exemplo do outro lado mundo: "Eles somos nós"
A política, tantas vezes vista como fonte de problemas, é com frequência exemplo de vida. A Nova Zelândia é do outro lado do mundo, normalmente sem grande destaque no palco internacional mas, nos últimos anos, o mundo olhou para este arquipélago da Oceania com um sorriso, respondendo ao sorriso que de lá transmitia Jacinda Ardern.

A nódoa que nem "uma remodelação do discurso" consegue tirar
Há uma grande volatilidade na política à portuguesa. O horror ao vazio não deixa espaços por preencher e, se a alternativa é inexistente, o poder tem de fazer oposição a si próprio como única forma de se regenerar.

Quem tem um partido assim, nem precisa de oposição
O que é que se pode dizer de um governo que coleciona casos? Que o último é só mais um. Já não sobra muita coisa para dizer. Bem sei que temos de ser governados e que a alternativa não existe. Na oposição dizem que ainda não existe, mas parece que ela já é mais forte dentro do próprio PS. Há pelo menos ali mais ambição que na São Caetano à Lapa.

Quem tramou Pedro Nuno Santos?
A resposta à pergunta que faz título desta crónica tem que começar por ser: o próprio. Mas dizer apenas isto é ficar muito longe de uma resposta que possa satisfazer até os menos exigentes. Temos de seguir a sugestão de Marcelo Rebelo de Sousa e começar pela pré-história. Vamos situá-la, não no momento em que Pedro Nuno Santos conspirou para tirar António José Seguro da liderança, oferecendo-a a António Costa, mas um pouco mais à frente, no momento em que o agora ex-ministro galvaniza um congresso socialista com um discurso à esquerda e obriga Costa a avisar que ainda não tinha metido os papéis para a reforma.
Depois disso, Pedro Nuno Santos foi promovido a ministro com uma pasta muito importante, um paradoxo para uma relação que ganhava fama de ser feita entre um líder que não gostava de quem estava na linha da frente para lhe suceder. No entretanto, a Geringonça estava a morrer e a importância política de Pedro Nuno Santos no governo a diminuir. Chega a maioria absoluta e nada muda nesta relação, até ao célebre episódio do despacho do ministro revogado pelo primeiro-ministro.

A guarda pretoriana do Catar
Num país de pouco mais de três milhões de habitantes, o direito a ser cidadão está reservado aos que nascerem filhos de pais cataris. Neste momento, são pouco mais de 300 mil. A renda per capita é das maiores do mundo, com o petróleo e o gás a representarem metade da riqueza anual. A família real ganhou o direito de governar há mais de 100 anos, antes mesmo da passagem do domínio otomano para o domínio britânico, a independência do país tem 51 anos e a Democracia nunca chegou.

Gente fardada fora-da-lei
É essencial começar por dizer que a notícia dos operacionais da PSP e GNR apanhados numa investigação jornalística a violar a lei e os regulamentos das corporações a que pertencem, cometendo crimes de ódio nas redes sociais, não é o retrato das forças de segurança em Portugal. É o ponto a que chegamos pela cobardia do poder político, sempre incapaz de cortar o mal pela raiz.
Como pode alguém justificar que polícias condenados por crimes cometidos no exercício de funções, tendo de cumprir pena, sejam depois readmitidos na corporação? Como pode alguém justificar que esse mesmo polícia tenha sido promovido dias antes de entrar na prisão para cumprir pena?

A importância do jornalismo
Da notícia de António Cerejo, no Público, a 26 de outubro, à demissão de Miguel Alves, a 10 de novembro, passaram-se duas semanas e uma entrevista ao Jornal de Notícias e à TSF em que o ex-autarca e ex-governante se apresentou como vítima de um complô de uma corte mediática, sediada em Lisboa, apostada em fazer mal a Caminha.

Marcelo e Costa sacodem a água do capote
O debate sobre as subidas das taxas de juro não é, na verdade, sobre as taxas de juro, mas sobre a independência dos bancos centrais e a sua função de garantir a estabilidade dos preços. E, por ser sobre a sua independência, deve ser também sobre a responsabilidade na atual crise inflacionária.

A suspeita mora em São Bento
O secretário de Estado-adjunto do primeiro-ministro, Miguel Alves, enquanto presidente da Câmara de Caminha, empenhou a sua palavra em defesa de um grupo de investidores privados que, afinal, de grupo não tem nada, tratando-se apenas de um cidadão dado a trapalhadas, que tem por hábito criar empresas que não têm grande actividade. Desse contrato, para a construção de um Centro de Exposições Transfronteiriço no concelho, pavilhão municipal multiusos com capacidade para milhares de espectadores, o dito empresário Ricardo Moutinho já recebeu um adiantamento de rendas no valor de 300 mil euros. Passaram-se dois anos e nada de pavilhão.

A pobreza é responsabilidade da elite
Esta semana a pobreza voltou a servir o combate político, deu jeito a alguns para apontar o dedo, esquecendo que o indicador apontado numa direcção coloca sempre o polegar apontado a nós próprios. A pobreza é um problema de todos. Ou, pelo menos, deveria ser. Mas a responsabilidade é mais de uns que de outros. Quando um jornal de referência, como o Expresso, nos diz em manchete que a crise faz disparar roubo de comida em supermercados está a dizer-nos igualmente que as coisas têm de mudar.

A instituição Presidência não pode estar ao serviço da instituição Igreja
A solidariedade com Marcelo Rebelo de Sousa manifestada por António Costa e reforçada pelo Partido Socialista, no dossiê dos abusos de menores na Igreja Católica Portuguesa, pode ser vista como uma absoluta necessidade de preservar o normal funcionamento das instituições, garantindo que o Presidente não fica sem chão. Conseguiu o seu efeito! Depois do primeiro-ministro ter considerado "inaceitável" a interpretação generalizada, entre os partidos e os comentadores, de que Marcelo estava a desvalorizar o número de crimes que membros da Igreja cometeram contra crianças, as críticas baixaram de tom. A seguir, Marcelo pediu ele desculpa às vítimas que se tivessem sentido ofendidas e o caso podia ser dado por encerrado.

Merecemos tudo o que nos acontece
Para começo de conversa, importa dizer que não conheço nenhum diretor de um órgão de comunicação social, seja jornal, rádio ou televisão, que não tenha direito pela função que exerce ao uso de um carro com plafond para gasolina e portagens. Enquanto exerci funções de direção foi-me atribuído, primeiro, um BMW e, no fim, uma carrinha VW de igual valor. Faço esta declaração de interesses para salientar a estupefação com que assisti a uma discussão populista sobre a renovação da frota automóvel da TAP.

A responsabilidade do PSD e do PS na normalização do Chega
A afirmação da extrema-direita e o seu potencial de crescimento, na Europa de uma forma geral e em Portugal de uma forma particular, é um risco a que devemos estar atentos. A normalização do Chega, vista pelo PSD de Luís Montenegro, como indispensável para chegar ao poder, é um erro do ponto de vista partidário, pelo risco de fazer crescer o poder de negociação de André Ventura, mas sobretudo por contribuir para uma cada fez maior divisão da sociedade, assente num nacionalismo xenófobo e racista promovido pelo Chega.

Nenhum partido é eterno
Na política, é sempre possível dizer uma coisa e fazer outra, mas não se espera que isso aconteça de forma tão descarada como a que foi feita por Luís Montenegro a respeito do Chega. Onde Rui Rio falhou com estrondo e Montenegro parecia querer fazer diferente, o PSD não muda nada.

A verdade que dói
A verdade é demasiadas vezes maltratada pelos políticos. É raro vê-la ser recebida com um sorriso por quem está no governo e por quem está na oposição e, não raras vezes, da esquerda à direita, ninguém gosta dela, porque ela não serve os interesses da retórica partidária. A maioria opta por a ignorar quando ela não é conveniente, mas há quem a torture, à espera que ela diga o que convém. Olhemos para esta semana que passou.

Quem fala em nome de Deus não pode ser cúmplice pelo silêncio
É muito difícil entender o silêncio de dois cardeais patriarcas perante um caso de abuso sexual de menores. Não me importa o que a lei dizia e o que diz agora, as regras que a Igreja não tinha e que impõe agora. Quem se arroga no direito de falar em nome de Deus, de conduzir multidões segundo a sua palavra, tem a obrigação de nunca calar tamanha imoralidade.

Os 50 graus dos chalupas
Podemos e devemos limpar os terrenos para não dar ao fogo o melhor pasto. Podemos e devemos fazer um melhor ordenamento do território e apostar ainda mais na descentralização da sua gestão para evitar erros no interior do país provocados por decisões tomadas nos palácios de Lisboa. Podemos e devemos dar mais meios e melhores retribuições aos bombeiros voluntários para os ter mais motivados num combate que é de todos. Podemos e devemos ter tolerância zero com o desleixo e mão pesada com os incendiários para evitar que tantos fogos comecem no mesmo dia. Podemos e devemos não dar descanso à corrupção que possa existir na aquisição de meios ou material de combate para evitar desperdício de dinheiro que tanta falta faz ao país.
