Paulo Baldaia

Os trabalhadores não são máquinas e os millennials não são talento

Sempre achei muita piada à ideia de que só trabalha quem não sabe fazer mais nada, porque toda a vida pensei que há sempre qualquer coisa melhor para fazer do que trabalhar, mas sempre gostei da minha profissão e na maior parte dos dias trabalhei com gozo, já lá vão bem mais de 30 anos. Vi, no entanto, que chegue para saber que aquilo que o Relatório do Custo do Stresse e dos Problemas de Saúde Psicológica no diz é que há um problema para resolver, mas nós fazemos de conta que não vemos o que temos à frente do nariz.

Paulo Baldaia

Quem tramou Pedro Nuno Santos?

A resposta à pergunta que faz título desta crónica tem que começar por ser: o próprio. Mas dizer apenas isto é ficar muito longe de uma resposta que possa satisfazer até os menos exigentes. Temos de seguir a sugestão de Marcelo Rebelo de Sousa e começar pela pré-história. Vamos situá-la, não no momento em que Pedro Nuno Santos conspirou para tirar António José Seguro da liderança, oferecendo-a a António Costa, mas um pouco mais à frente, no momento em que o agora ex-ministro galvaniza um congresso socialista com um discurso à esquerda e obriga Costa a avisar que ainda não tinha metido os papéis para a reforma.
Depois disso, Pedro Nuno Santos foi promovido a ministro com uma pasta muito importante, um paradoxo para uma relação que ganhava fama de ser feita entre um líder que não gostava de quem estava na linha da frente para lhe suceder. No entretanto, a Geringonça estava a morrer e a importância política de Pedro Nuno Santos no governo a diminuir. Chega a maioria absoluta e nada muda nesta relação, até ao célebre episódio do despacho do ministro revogado pelo primeiro-ministro.

Paulo Baldaia

A guarda pretoriana do Catar

Num país de pouco mais de três milhões de habitantes, o direito a ser cidadão está reservado aos que nascerem filhos de pais cataris. Neste momento, são pouco mais de 300 mil. A renda per capita é das maiores do mundo, com o petróleo e o gás a representarem metade da riqueza anual. A família real ganhou o direito de governar há mais de 100 anos, antes mesmo da passagem do domínio otomano para o domínio britânico, a independência do país tem 51 anos e a Democracia nunca chegou.

Paulo Baldaia

Gente fardada fora-da-lei

É essencial começar por dizer que a notícia dos operacionais da PSP e GNR apanhados numa investigação jornalística a violar a lei e os regulamentos das corporações a que pertencem, cometendo crimes de ódio nas redes sociais, não é o retrato das forças de segurança em Portugal. É o ponto a que chegamos pela cobardia do poder político, sempre incapaz de cortar o mal pela raiz.
Como pode alguém justificar que polícias condenados por crimes cometidos no exercício de funções, tendo de cumprir pena, sejam depois readmitidos na corporação? Como pode alguém justificar que esse mesmo polícia tenha sido promovido dias antes de entrar na prisão para cumprir pena?

Paulo Baldaia

A suspeita mora em São Bento

O secretário de Estado-adjunto do primeiro-ministro, Miguel Alves, enquanto presidente da Câmara de Caminha, empenhou a sua palavra em defesa de um grupo de investidores privados que, afinal, de grupo não tem nada, tratando-se apenas de um cidadão dado a trapalhadas, que tem por hábito criar empresas que não têm grande actividade. Desse contrato, para a construção de um Centro de Exposições Transfronteiriço no concelho, pavilhão municipal multiusos com capacidade para milhares de espectadores, o dito empresário Ricardo Moutinho já recebeu um adiantamento de rendas no valor de 300 mil euros. Passaram-se dois anos e nada de pavilhão.

Paulo Baldaia

A pobreza é responsabilidade da elite

Esta semana a pobreza voltou a servir o combate político, deu jeito a alguns para apontar o dedo, esquecendo que o indicador apontado numa direcção coloca sempre o polegar apontado a nós próprios. A pobreza é um problema de todos. Ou, pelo menos, deveria ser. Mas a responsabilidade é mais de uns que de outros. Quando um jornal de referência, como o Expresso, nos diz em manchete que a crise faz disparar roubo de comida em supermercados está a dizer-nos igualmente que as coisas têm de mudar.

Paulo Baldaia

A instituição Presidência não pode estar ao serviço da instituição Igreja

A solidariedade com Marcelo Rebelo de Sousa manifestada por António Costa e reforçada pelo Partido Socialista, no dossiê dos abusos de menores na Igreja Católica Portuguesa, pode ser vista como uma absoluta necessidade de preservar o normal funcionamento das instituições, garantindo que o Presidente não fica sem chão. Conseguiu o seu efeito! Depois do primeiro-ministro ter considerado "inaceitável" a interpretação generalizada, entre os partidos e os comentadores, de que Marcelo estava a desvalorizar o número de crimes que membros da Igreja cometeram contra crianças, as críticas baixaram de tom. A seguir, Marcelo pediu ele desculpa às vítimas que se tivessem sentido ofendidas e o caso podia ser dado por encerrado.

Paulo Baldaia

Merecemos tudo o que nos acontece

Para começo de conversa, importa dizer que não conheço nenhum diretor de um órgão de comunicação social, seja jornal, rádio ou televisão, que não tenha direito pela função que exerce ao uso de um carro com plafond para gasolina e portagens. Enquanto exerci funções de direção foi-me atribuído, primeiro, um BMW e, no fim, uma carrinha VW de igual valor. Faço esta declaração de interesses para salientar a estupefação com que assisti a uma discussão populista sobre a renovação da frota automóvel da TAP.

Paulo Baldaia

A responsabilidade do PSD e do PS na normalização do Chega

A afirmação da extrema-direita e o seu potencial de crescimento, na Europa de uma forma geral e em Portugal de uma forma particular, é um risco a que devemos estar atentos. A normalização do Chega, vista pelo PSD de Luís Montenegro, como indispensável para chegar ao poder, é um erro do ponto de vista partidário, pelo risco de fazer crescer o poder de negociação de André Ventura, mas sobretudo por contribuir para uma cada fez maior divisão da sociedade, assente num nacionalismo xenófobo e racista promovido pelo Chega.

Paulo Baldaia

Os 50 graus dos chalupas

Podemos e devemos limpar os terrenos para não dar ao fogo o melhor pasto. Podemos e devemos fazer um melhor ordenamento do território e apostar ainda mais na descentralização da sua gestão para evitar erros no interior do país provocados por decisões tomadas nos palácios de Lisboa. Podemos e devemos dar mais meios e melhores retribuições aos bombeiros voluntários para os ter mais motivados num combate que é de todos. Podemos e devemos ter tolerância zero com o desleixo e mão pesada com os incendiários para evitar que tantos fogos comecem no mesmo dia. Podemos e devemos não dar descanso à corrupção que possa existir na aquisição de meios ou material de combate para evitar desperdício de dinheiro que tanta falta faz ao país.

Paulo Baldaia

Já que pagamos, vamos lá defender a escola pública

A divulgação dos rankings das escolas que estará entre as noticias mais ouvidas, mais vistas e mais lidas, ajuda a perpetuar um mito que é claramente prejudicial à escola pública. Dirão que é um facto, que as notas que os alunos tiram nos exames, visto na média de cada escola, da mais alta para a mais baixa, diz-nos que o ranking é claramente dominado pelas escolas privadas. É um facto.
O que essas notas não nos dizem é que os privados fazem uma seleção dos alunos, à cabeça os privados que querem mostrar um ensino de excelência. Há colégios privados que só aceitam a entrada de alunos que cheguem com notas altas e outros, sem terem esse grau de exigência, que se limitam a preparar os alunos para os exames de acesso ao ensino superior ou a inflacionar as notas de final do ano.