O sudoeste e as planícies centrais dos Estados Unidos correm o risco de enfrentar uma mega seca já a partir de 2050, a maior dos últimos mil anos. A conclusão é de uma investigação do Instituto Goddard para Estudos Espaciais da Nasa.
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Algumas regiões, como a Califórnia já vivem uma séria falta de chuva, mas a situação é moderada se comparada com alguns períodos dos séculos XII e XIII.
«Essas mega secas durante os anos 1100 e 1200 persistiram por 20, 30, 40, 50 anos e foram secas que ninguém na história dos Estados Unidos jamais viveu", explicou Ben Cook, do Instituto Goddard para Estudos Espaciais da Nasa.
São estes períodos climatéricos sem precedentes no último milénio que podem vir a repetir-se.
«As secas que as pessoas conhecem - como a que foi chamada de dust bowl na década de 30, por causa das tempestades de areia, a seca dos anos 50 ou mesmo a atual seca na Califórnia e no sudoeste - foram secas naturais que se esperava que durassem apenas alguns anos ou talvez uma década».
A investigação reforçou o consenso de que as secas devem atingir o sudoeste e as planícies centrais americanas (uma larga faixa de território do norte do Texas até ao Dakota do Norte e do Sul) em consequência das crescentes emissões de gases na atmosfera.
Serão provocadas por um fenómeno duplo: a precipitação reduzida e o aumento da evaporação (impulsionado pelas altas temperaturas, que deixará os solos mais secos).
Para o novo estudo, a equipa de Cook comparou reconstruções das condições climatéricas do passado, realizadas a partir da análise dos anéis de crescimento das árvores - os anéis são mais largos em anos mais húmidos. Foram tidos em conta também outros 17 modelos climatéricos, além de índices diferentes usados para descrever a quantidade de humidade que se manteve nos solos.
Com estas informações, os investigadores conseguiram compreender a variação natural do clima, separando o que são situações normais e o que seriam situações extremas.
O que o grupo descobriu foi que, após 2050, o sudoeste e as planícies centrais dos EUA provavelmente passarão por períodos de seca que devem ultrapassar até mesmo a chamada "anomalia climática medieval" nos séculos XII e XIII.
«Tanto no sudoeste como nas planícies centrais, estamos a falar de um risco de 80% de uma seca de 35 anos até o final do século, se as alterações climáticas continuarem», disse o co-autor do estudo Toby Ault, da Universidade de Cornell.
«E esse é um ponto muito importante - não estamos necessariamente presos no elevado risco de uma mega seca se agirmos por antecipação para reverter os efeitos da emissão dos gases de estufa nas temperaturas globais."
Toby Ault definiu as condições de uma mega seca usando o exemplo da cidade de Tucson, no Arizona, onde a precipitação está 80% abaixo dos níveis esperados desde o final dos anos 1990. Se isso continuar por mais duas décadas, o panorama é o de uma mega seca.
Apesar do desafio, o investigador diz estar otimista com a possibilidade de desenvolver estratégias para lidar com o problema.
«Estou otimista porque uma mega seca não significa não ter água - significa apenas ter muito menos água do que estamos habituados a ter no século XX.»
O estudo foi publicado na revista científica Science Advances.