Moradores e comerciantes do Cais do Sodré, em Lisboa, criticam o aumento do trânsito, da poluição e do barulho devido às obras na Avenida Ribeira das Naus, apesar de alguma expectativa em torno do resultado final.
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Há um ano que Matthew McCann montou um restaurante com esplanada perto do Largo do Corpo Santo, mas as obras na Ribeira das Naus só lhe trouxeram problemas, como o pó que chega à comida dos clientes ou a falta de informação por parte da Câmara de Lisboa.
«As obras prejudicaram o nosso negócio em 60% até ao momento. O comércio local aqui tem sofrido muito e não recebe nenhuma compensação da câmara, nem informação. E sem informação é difícil manter empregados», conta o comerciante à agência Lusa.
Também para moradores as obras têm trazido alguns problemas. José Maria Pacheco, que mora nas proximidades do Largo do Corpo Santo, afirma que «qualquer pequeno aumento de tráfego provoca engarrafamentos de horas» na Rua do Arsenal, onde «passam quase o dobro dos autocarros que na Avenida da República», uma via com várias faixas.
Os moradores temem ainda os impactos que o aumento de trânsito nas vias circundantes da Avenida Ribeira das Naus e do Cais do Sodré na qualidade do ar e nas infraestruturas dos edifícios e alertam para a poluição sonora.
«Não está estudado. Era importante que se estudasse e que se encontrasse alternativas para limitar o trânsito nesta zona», propõe José Maria Pacheco.
Por outro lado, este morador admite o mérito da obra e o comerciante Joaquim Pais espera que quem visitar a avenida ribeirinha faça o desvio e conheça as lojas da Rua do Arsenal.
Esse é um objetivo da Câmara de Lisboa: «No futuro pretendemos ter circulação zero no Terreiro do Paço. É um projeto que demora tempo e que obriga a criar alternativas, mas essas alternativas já existem. Há que torná-las mais fluidas e em alguns casos melhorar a sinalização», diz o vereador das Obras Municipais.
«Há muitas formas de circular na cidade. E aqui eu diria que há uma falha nossa. Nós temos de comunicar melhor quais é que são as alternativas de circulação», considera Manuel Salgado, repudiando «uma grande resistência à mudança» dos lisboetas.
O responsável referiu que a autarquia está a criar condições para que as pessoas tenham acesso à margem do Tejo, já que o «maior valor» de Lisboa é a sua relação com o rio e para que se reduza o número de carros que ali circulam aqui.
Quanto às críticas dos comerciantes, o autarca garantiu, sem querer comprometer-se com uma data, que as obras terminam «muito em breve» e que «haverá outra vez a possibilidade de usufruir das esplanadas e do espaço público» na zona do Largo do Corpo Santo.
No Cais do Sodré, que será requalificado a seguir à Ribeira das Naus, a câmara pretende «aumentar o espaço para peões», facilitando e aumentando a segurança na circulação entre transportes, «melhorar o jardim e retirar o parque de estacionamento».
A fase final da obra da Ribeira das Naus vai colocar a descoberto a antiga Doca Seca do Arsenal da Marinha e a caldeirinha e elevar as antigas rampas de colocação de navios no Tejo, que ficarão com relva.