Mesmo os críticos não escondem a admiração por um homem que se tornou o mais velho realizador do mundo em atividade. A polémica acompanhou sempre Manoel de Oliveira, dono de um estilo próprio, onde as palavras são tudo.
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Manoel Cândido Pinto de Oliveira nasceu no Porto, a 11 de dezembro de 1908, descendente de uma família da alta burguesia nortenha, filho de Cândida Ferreira Pinto e de Francisco José de Oliveira, industrial e o primeiro fabricante de lâmpadas do país.
O pai de Manoel de Oliveira levava o filho, ainda muito novo, a ver filmes de Charlie Chaplin. O interesse pela Sétima Arte começava a despertar, mas antes de lhe dedicar a vida, era o atletismo e a vida boémia que concentravam as atenções do jovem Manoel.
Fez os primeiros estudos no Porto e depois foi para o colégio jesuíta de La Guardia, na Galiza. Sempre admitiu ter sido mau aluno, dedicando-se ao atletismo: foi campeão nacional de salto à vara e atleta do Sport Club do Porto. Fora da escola dedicou muitas horas às tertúlias no café Diana, na Póvoa do Varzim, com os amigos José Régio e Agustina Bessa-Luís.
Até que chegou ao Cinema. Aos 20 anos, Manoel de Oliveira chega à escola de atores fundada no Porto pelo cineasta italiano Rino Lupo. Vê, nessa altura, «Berlim: Sinfonia de uma cidade», documentário de Walther Ruttmann, e começa a pensar numa curta-metragem sobre a faina no rio Douro.
Pouco depois, em 1931, «Douro, faina fluvial» recebe aplausos da crítica estrangeira e os apupos dos críticos nacionais. Depois seguem-se vários documentários e até uma participação como ator na «Canção de Lisboa», até 1942, o ano de «Aniki bobó», a primeira aventura de Manoel de Oliveira na ficção enquanto realizador.
O fracasso comercial do filme leva Manoel de Oliveira a abandonar outros projetos e a regressar aos negócios da família. Ao cinema voltaria apenas 14 anos depois, com «O pintor e a cidade».
Seguiram-se outros filmes, mas só a partir da década de 80 entra no ritmo frenético de fazer quase um filme por ano.
Os anos 60 marcam o início do olhar atento internacional à obra do realizador português. O Festival de Locarno, em Itália, presta-lhe homenagem em 1964, e a Cinemateca de Paris faz uma retrospetiva no ano seguinte.
Depois de 1971, com «O passado e o presente», acumulam-se prémios e louvores e torna-se presença assídua de festivais como Cannes e Veneza. Mesmo os críticos não escondem a admiração por um homem que se tornou o mais velho realizador do mundo em atividade. Um caso à parte.
A polémica acompanhou sempre Manoel de Oliveira, dono de um estilo próprio, onde as palavras são tudo. Ao longo dos anos, a sua obra foi fiel ao estilo único que desenvolveu mas também às ligações que criou a escritores, como Agustina Bessa-Luís, e fiel a atores como Luís Miguel Cintra, o neto Ricardo Trêpa ou Leonor Silveira.
Manoel de Oliveira sempre insistiu, ao longo da vida, que só criava filmes pelo gozo de os fazer. Homem do Cinema, sempre de olho no amanhã, o passado já foi.